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Não sei se o que vou narrar acontece com todos, mas comigo é recorrente


Não sei se o que vou narrar acontece com todos, mas comigo é recorrente. Sempre que recebo uma notícia muito boa, logo depois vem uma muito ruim para descompensar. Daquelas que me tiram o chão e o estado de euforia em que me encontro. Cito um fato que ficou marcado na memória: - Quando fiz o Cursilho de Cristandade retornei para casa em estado de graça, e minha família preparou uma festa para mim. Estava na maior alegria, quando recebi um telefonema de uma sobrinha avisando que minha mãe estava mal. Foi como um balde de água fria na minha cabeça, fui socorrer minha mãe e a alegria escoou pelo ralo da vida.

E a história se repete. No verão comecei a perceber que um dente, o último da arcada inferior, estava doendo, não muito, mas às vezes acordava à noite com dor. Em férias, sendo uma dorzinha chata mas não lancinante, resolvi adiar. Quando busco a dentista, ela questiona se doía com água gelada ou quente, constatou que o canal fora tratado e me encaminhou para radiografia. Alguns dias depois, retornando de um evento, em que me fora dado uma notícia maravilhosa, e enquanto recebia a confirmação, pelo whatsapp, o telefone tocou e a dentista me comunicou que iria me dar uma notícia ruim: - que eu havia perdido o meu dente, teria que extrair e fazer implante, se possível. Parece bobagem? Para mim não é. Tenho o maior cuidado com meus dentes, venho de uma história de infância na roça, em que as pessoas até os quarenta anos já tinham extraído os dentes e colocado próteses. Era comum, aconteceu com meus irmãos mais velhos. Dentes começavam a doer, não havia atenuantes, não se tratava canal, arrancava e pronto. Meu marido tinha um amigo, fato mais atual, que quando começou a ter complicação com os dentes resolveu mandar extrair todos, bons e ruins, e colocou próteses superior e inferior, para não ter mais problemas.

Preocupada com meu dente e com outros fatos, como a quantidade de animais nas ruas, em conversa com um cidadão do interior sobre o absurdo de pessoas os abandonarem, ele narrou que resgatou uma cachorrinha doente, cuidou, e que ela era seu xodó. Mas que infelizmente estava ficando velha. Perguntei como ele sabia, e respondeu que pelos dentes. Na roça se deduzia a idade dos animais, cães e cavalos, pelos dentes. Quando começam a cair está chegando a hora de morrer. Pensei cá com meus botões, esse povo do interior podia ser menos franco, não?      

 

Marilene De Batista Depes

 


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