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Vivas à política dos bons, como Nelson, e venham as penas da lei aos aproveitadores


Enquanto isso, no lado inverso da medalha administrativa, o Cine Clube Jece Valadão está a meio caminho de realizar documentário sobre o Centro Operário e de Proteção Mútua, entidade de mais 100 anos, dos quais, no mínimo, mais de 40 anos foi dirigido pelo portento que se chama Nelson Sylvan, que nos deixou próximo dos seus 100 anos de idade.

Nelson Sylvan, o segundo cidadão a se inscrever no Partido Integralista de Cachoeiro, partido que representa tudo aquilo que particularmente não defendemos em termos de política, foi um portento, que defendia suas opiniões políticas, mas nunca perdeu ou destratou amigo ou inimigo político seu - sou testemunha pessoal disso.

Ao homenagear o Centro Operário, em revista e documentário, contando sua história, certamente brilhará, mais que todos, a imagem honesta, espontânea, brilhante, cavalheira, brincalhona, amistosa e amiga do pequeno gigante Nelson Sylvan. Que venham revista e documentário; estarei na primeira fila para aplaudir. Vivas à política dos bons, como Nelson, e venham as penas da lei aos aproveitadores.

 

NELSON SYLVAN

Nascido em Cachoeiro em 10/11/1910, filho de Pedro Sylvan e de Maria Thereza Sylvan. É das mais importantes personalidades de Cachoeiro. Sua marca principal, se homem desse porte pudesse ser enquadrado em uma palavra, foi a coerência. Foi político militante, sempre observador mordaz. Filiou-se ao integralismo em 1932 (o segundo a se inscrever) e manteve a crença em suas propostas. Não se deixou contaminar pelo extremismo. Fácil vê-lo discutir e oferecer propostas para o futuro de Cachoeiro. Nunca perdeu as esperanças e nem a verve. Exemplo de homem digno, soube dignificar o que defendia: o bem. Avis rara. Dos primeiros alunos do Liceu (1922) antes dele se chamar "Liceu" (1936). Trabalhou na Cia. Central de Força Elétrica (atualmente EDP). Foi membro da Academia Cachoeirense de Letras (cadeira nº 36), especializou-se em compor trovas. Tem muitas delas deliciosamente picantes, apreciadas e bastante cabeludas, as que não se contavam nos salões de outrora.

Em 20/05/1934, 4,25 h da madrugada, façanha nunca igualada, com três amigos (Pedro Sampaio, Darcy Marques e Murilo Freitas), foi de Cachoeiro a Campos, de bicicleta. Jornada de 19 horas. Voltou no dia 22 e bateu o próprio recorde - 16 horas. (deve ter sido saudade de Cachoeiro).

Membro do Instituto Histórico e Geográfico. Presidente do Centro Operário e de Proteção Mútua, desde 1969. Sempre viveu ao redor da Rua 25 de março e viu passar por ali boa parte da História de Cachoeiro. Criança, foi contemporâneo de Rubem e de Newton Braga, que também moraram ali.

Dele, eu disse em discurso no 1º/05/2005, e ratifico: "Correm os anos, e correm rápidos. E na sua corrida, que bom anunciar, mais cresce o admirável homem, que foi tudo e é tudo. Mais cresce esse portento, em linha reta, compondo o seu papel. São poucos os homens como Nelson Sylvan".

São de sua lavra e é retrato dele os versos: "Mas o poeta, em sua lida, / apresenta, na verdade, / uma mente esclarecida, / sem esta de muita idade..."

 

O Ministério Público Está Certo

O titulo da crônica repete a que publiquei em 31 de julho de 2010, passados quase 9 anos. E não só o título é repetido - repito a crônica e falo sobre a falta de concurso público na prefeitura de Cachoeiro, especialmente para professores. Nada mudou, daí repetir a crônica, vez que o Ministério Público repete sua saga e está certo. A crônica de quase década é esta, da qual só fiz anotações entre parênteses:

"Nos últimos vinte anos, as administrações públicas do município roeram estruturas que mantinham o quadro de servidores públicos concursados. Roendo estruturas, roeram vencimentos dos concursados, minguados, ao ponto de ser miraculoso que ainda existam servidores concursados. Médicos, engenheiros, administradores, dentistas e outros cargos superiores concursados ganham de 600 a 800 reais. Salário do servidor de nível médio beira o salário-mínimo (2019 - está abaixo do mínimo). Sobram os professores, que chegam a ganhar até dois mil reais e médicos da saúde família, que vão além, mas nada que espante. E não se espantem com ganhos desses últimos servidores. Professores ganham mais um pouco, por que, se não, o prefeito é enquadrado na lei de responsabilidade fiscal. Professores e médicos do "Saúde Família", só recebem "tanto" por que é dinheiro federal; se não pagá-los, além da improbidade, a administração fica sem dinheiro federal.

Ao lado do apodrecimento premeditado das carreiras de concurso, cresce outra carreira: a dos que não se submetem a concurso público. Embora haja entre eles muita gente boa, a tendência é serem apaniguados, cabos eleitorais, serviçais nomeados contra a lei e sem compromisso com a administração e com o cidadão que votou no prefeito da vez. Comissionados cada vez mais aumentam em número e em valor de salário. Ao fim, embora o salário do concursado seja cada vez mais miserável, as finanças municipais roçam os limites autorizados pela lei federal, graças a essa ilegalidade.

A Ação Civil Pública do Ministério Público contra o município de Cachoeiro (agora, 2019, é notificação recomendatória) e a liminar concedida pelo Judiciário são tentativas sérias para repor nos trilhos a locomotiva municipal, de há muito desmoralizada.

Difícil entender que a administração municipal atual, eleita na esperança de ampla moralização dos costumes, em vez de se posicionar ao lado do Ministério Público, fica do lado daquilo e daqueles que sempre combatera.

Responsável também a atual administração, e muito. A ação do MP e a decisão do juízo, ao contrário de prejudicar serviços prestados pelo município, é a maior moralização que se promoveu por aqui, nos últimos anos, comparável com a defenestração do prefeito anterior.

Absurdo a administração, é o que dizem os jornais, contribuir ou fazer vista grossa em levante de parte dos comissionados, afrontando o guardião da lei, em suas funções institucionais, tentando constrangê-lo em residência ou local de trabalho. A conta vai aumentar.

Culpa não é só das administrações anteriores. Culpa maior, hoje, é da administração atual que, a mais de ano e meio da posse, ainda insiste em não dar um passo para cumprir o art. 37 da Constituição. Está a atual administração (seja a de 2010, seja a de 2019) longe de cumprir a lei e atender ao povo que o elegeu na memorável vitória, a qual, infelizmente, murcha. Ministério Público e Juízo estão certos, palavra de advogado".

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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