Bom demais! - Jornal Fato
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Bom demais!

Faço um retrospecto dos prazeres da minha vida


Da minha casa ouço o barulho de um circo na Ilha da Luz, e recordo que ir ao circo era um grande prazer da minha infância. E o meu neto de oito anos foi ao circo e detestou! Será que o que é bom para mim pode não ser para os demais?

Faço um retrospecto dos prazeres da minha vida: na infância passar férias na casa da irmã; a alfabetização e o prazer da leitura; ir ao cinema aos domingos assistir as chanchadas; curtir o parque natural da Ilha da Luz. Da adolescência à vida adulta: os bailes; os desfiles da Festa na Escola de Comércio e posteriormente como baliza no Liceu; os primeiros banhos de mar; o namoro com paixão e seus desdobramentos - noivado, casamento, lua de mel no Rio de Janeiro que eu não conhecia; primeiro emprego; aprovação no Concurso Público; formaturas nas Faculdades de Filosofia e Direito; chegada dos filhos, cada um representando uma alegria especial; construção da casa; compra da casa de praia; férias com a família; filhos aprovados nos vestibulares; viagens, muitas viagens; Encontro Conjugal; Cursilho; Encontro de adolescentes; livros e mais livros; terapias em grupos; a dança de salão...e a maturidade a dois até a comemoração das Bodas de Ouro; os netos; o trabalho na empresa e na comunidade, além dos Conselhos; as Academias de letras e ginástica e os grupos de amigos.

Roberto Carlos declarou que bom mesmo é sorvete, sexo e sexo com amor! Sexo é bom em qualquer fase da vida e tesão é instinto que permanece até o final da existência. A própria tesão pela vida é um prazer inigualável para quem já muito viveu. E hoje bom demais é dançar; deitar de conchinha com o amor de sempre; férias em Marataízes com muito banho de mar; samba e Carnaval; barulho da chuva caindo do telhado; família unida e o trabalho que rejuvenesce. Bom demais é a convivência fraterna com os amigos. Bom demais é a fé que sustenta. Bom demais é escrever e publicar, é partilhar o vivido e sentir-se acolhida, bom demais é ser o que se é e não se preocupar com o que podem pensar a seu respeito. Bom demais é ver um filme numa poltrona reclinável e ir a lugar nenhum. Bom demais é ter vivido tanta coisa boa na vida e o que foi menos bom, já que não se é masoquista, manter no esquecimento. Bom demais é simplesmente estar viva!

 

Marilene De Batista Depes


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