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Em 1979, aos 18 anos, ingressei no CAUFES - Centro Agropecuário da Universidade Federal do Espírito Santo - em Alegre, para cursar Engenharia Agronômica. Nesse mesmo ano, aos 15 dias de março, o General João Baptista de Oliveira Figueiredo tomava posse como o trigésimo Presidente da República Federativa do Brasil. Com ele se iniciaria, em especial a partir do dia 28 de agosto, com a sanção da Lei da Anistia, a distensão do regime militar até então vigente. A abertura política por ele iniciada culminaria com as eleições diretas para presidente, em novembro de 1989.

Naquela época havia no Brasil apenas dois partidos políticos: o MDB - Movimento Democrático Brasileiro - e a ARENA - Aliança Renovadora Nacional. O primeiro, de oposição, daria origem futuramente, entre outros partidos de direita e esquerda, ao PMDB atual que retornou à sigla original recentemente, como se isso fosse apagar os diversos erros e desvios cometidos ao longo da história. O segundo, destinado a dar sustentação política ao governo militar, foi rebatizado posteriormente como PDS, que deu origem ao PFL, que é o atual DEM. É a célebre sopa de letras dos partidos políticos brasileiros.

Ironia das ironias, tanto PT quanto (P)MDB - partidos antagônicos, adversários viscerais nas eleições em qualquer esfera - em sua origem apresentavam, ambos, oposição firme e aguerrida ao poder vigente e pregavam e praticavam princípios éticos. Quando finalmente chegaram ao governo - na verdade o PMDB sempre esteve ao lado do governo, qualquer que fosse ele - perderam esses princípios e se entregaram ao fisiologismo e ao paternalismo estatal.

Jovem, cheio de ideias na cabeça e disposto a coloca-las em prática, logo me enturmei com o pessoal do Diretório Acadêmico - DA. Participava ativamente das reuniões e também de ações como manifestações e panfletagem - isso no Alegre, no apagar da década de 1970, imaginem. Até que uma vez iríamos - nós, os alunos do CAUFES, em especial os calouros - fazer uma passeata em prol da anistia dos presos políticos brasileiros. Recentemente havia sido instalado no município uma Companhia ou um Batalhão da Polícia Militar, agora não me recordo com certeza. Alguns diziam que isso ocorrera somente devido à transformação da antiga ESAES - Escola Superior de Agronomia do Espírito Santo - em um Centro da UFES, que como toda universidade era vista na época como foco de resistência ao regime e de propagação de ideais revolucionários. Seria necessário, portanto, que o Estado dispusesse de algum aparato repressor que lhe fizesse frente in loco.

Pois bem, pouco antes de sairmos para a passeata discutíamos sobre o que fazer caso a PM decidisse reprimir a passeata - ou, numa linguagem mais popular, descer o sarrafo na rapaziada. Foi então que os dirigentes do DA se saíram com uma pérola para nós, os calouros e os menos experientes. Disseram-nos que bastaria que cantássemos o hino nacional que os soldados teriam, por força de ofício, que ficar em posição de sentido, por respeito a um dos símbolos da pátria, assim como o são a bandeira, o brasão e o selo nacionais. Achei meio estranho, mas fui para a passeata, ressabiado mas de peito aberto e gritando palavras de ordem; e tudo correu bem. Continua.


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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