Bíblia, regra de fé - Jornal Fato
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Bíblia, regra de fé

Sou uma pessoa bem comum, talvez até desinteressante


Foto: Canção Nova

Sou uma pessoa bem comum, talvez até desinteressante, que tem como única regra de fé e prática a Bíblia. Coisa estúpida para alguns, importantíssima para mim, em toda a minha imperfeição e criticidade, inclusive em relação ao fundamentalismo que tomou conta de sermões, discursos e púlpitos e do uso político que se faz das religiões, com a benção dos seus líderes.

Basear-se num livro escrito por homens, e que mais do que nunca tem sido usado com verdades seletivas, para atender e pregar interesses que não são o cristianismo autêntico e genuíno de Jesus Cristo é questionado por muitos amigos céticos, a quem amo e respeito do mesmo jeito, mesmo que pensem diferente de mim. Afinal, aprendi que a fé o fundamento de coisas que se esperam e prova do que não se vê. Então, realmente parece loucura. Compreensível.

Não li muitos dos grandes autores e filósofos considerados obrigatórios, e o conhecimento que tenho, muitas vezes, é a partir de pesquisas quando ouço uma abordagem interessante ou polêmica a respeito deles. Então lamento, mas não sou a intelectual que talvez muitos esperassem. Minha leitura da vida toda foi realmente a Bíblia.

Leio autores interessantes por afinidade, concordo ou discordo ousadamente deles, mas o que me norteia realmente é o que aprendi no Livro Sagrado e com a vivência na igreja, que era bem diferente, mais amorosa e acolhedora, naquele tempo. O amor podia ser percebido no abraço do irmão, no olhar e no aperto de mão. A igreja da minha infância e juventude promovia inclusão, amor e afeto ao próximo.

Então, muito por isso, muitas igrejas dos dias atuais não me representam e passam longe de tudo que aprendi a vida toda. Incentivam o ódio e a exclusão. Faço muito esforço para tentar cumprir pelo menos um pouco do que é ensinado nas muitas páginas da Bíblia, mas algumas coisas não faço nenhum esforço e me vejo pedindo perdão constantemente por isso.

Aos poucos tenho riscado da minha vida pessoas que não agregam valor. Não faço questão de tê-las na relação de amigos. Isso vale para qualquer ambiente. Sei que pode não ser cristão, mas a hipocrisia, desde sempre e cada vez menos, tem espaço na minha trajetória. 

Mas sabe o que mais me cansa? Ver pessoas notadamente e teoricamente cristãs defenderem que bandido bom é bandido morto. E o que se tem visto cada dia mais que o que muitas vezes joga no cidadão a pecha de bandido é a cor da pele. Quem comete crimes tem que pagar por eles até o último minuto de suas penas. Tudo tem consequência. O que deveria valer para todos, e não apenas para os negros e pobres.

Já ouvi dizer, e não sei se existe fundamentação teológica que sustente, que Moisés conduziu o povo muitos anos, fez brotar água da rocha e cair o maná do céu, mas não entrou na Terra Prometida porque era homicida. Acredito que tudo tem consequência e as pessoas devem, sim, pagar por seus erros. Mas excluí-las de tudo que o Evangelho prega, vivendo um cristianismo de verdades seletivas me cansa.

Mas é bom deixar bem claro. Não sou exemplo para ninguém. Gosto cada vez mais da minha vida reclusa e longe de tantas certezas excludentes e discriminatórias. Que Deus tenha misericórdia de nós. Que Deus tenha misericórdia do Brasil.

 


Anete Lacerda Jornalista

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