Barulhentos - Jornal Fato
Artigos

Barulhentos

Barulho. Algumas pessoas não vivem sem ele


Barulho. Algumas pessoas não vivem sem ele. E não basta o barulho, precisa movimento para não morrerem de tédio. Imagino a pressão que deve ser viver assim, com o desassossego de não desejar um instante de paz, de solidão opcional, de reflexão e pensamentos voando.

O barulhento não quer quietude, mas no inverno ele quer verão para pular carnaval, e no verão ele quer inverno para as festas nas fogueiras. E eu nem sei se assim se nasce ou se adquire essa característica com o tempo. O barulhento não deseja o que não tem, mas deseja que o que tem seja sempre uma festa, com muita gente, muita música e muito movimento. Quer ocupar todo o seu tempo e tomar um sossega leão para não correr o risco de acordar no meio da noite e ter que lidar com o silêncio das altas horas.

O estrondoso não suporta nem um pouco de monotonia. Acordam querendo fazer que nem sempre é o que precisa ser feito. Nada de tarefas individuais ou terapêuticas. Ler um livro quietinho na rede então, nem pensar. São aqueles que largaram as longas conversas pelo telefone porque inventaram o whatsapp, e aí a vida é melhorou, porque é capaz de falar com mais pessoas ao mesmo tempo e gritar: vamos sair! Vamos comer! Vamos beber! Me escutem, por favor! E, se ninguém escuta pelas formas convencionais, correm para as redes sociais. Não foi para isso, afinal, que foram criadas? Para sermos notados?

Quem gosta do tumulto constante só sossega se for para elaborar o próximo encontro, a próxima bagunça. Eles não são infelizes. Isso não. Mas são pessoas difíceis de contemplar a paz e se satisfazerem com ela. Uma série de muitas temporadas, que é um grande presente para muitos, para eles é um Tédio assim, com t maiúsculo mesmo. Nada de música tranquila, falar baixo, concentração e foco em algo que não emita sons. A vida só tá boa se um DJ estiver tocando uma música que ele conheça, sim, porque cantar junto e bem alto faz parte.

Os seres gritantes não meditam. E dizem em alto e bom som que Deus os livre disso. Não almejam uma casa no campo ou em uma praia que não seja point. Preferem passar a vida sem pausa para refletir sobre sua existência ou fazer algum tipo de planejamento a longo prazo. Tudo precisa ser imediato para que não lhes cause desânimo ou desistam bruscamente. Importante é que o momento seja plenamente feliz, mas o caminho percorrido até ele seja rápido e com muita conversa.

Eu gosto do pagode e do carnaval e das canções do ayurveda. Curto tanto a boemia quanto dormir cedo. Gosto de estar cercada de amigos, de estar só com a família, de um encontro a dois e também de estar sozinha. Acredito, e isso é coisa minha, que a vida para ser boa ela precisa de equilíbrio. Muitas vezes, quem não suporta o silêncio, foge do autoconhecimento. Tem medo do que vai encontrar e das respostas que vai ter. Mas que um dia saberão. Ser feliz a dois, em família ou na multidão depende de uma coisinha que esquecemos: ser feliz com a gente mesmo. Só depois que nos conhecemos e amamos profundamente esse mundinho que somos nós, é que tudo o mais ganha sentido. Mas muitos trechos dessa viagem precisa ser feito no mais absoluto silêncio.

 


Paula Garruth Colunista

Comentários