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Em primeiro de dezembro acordo com a triste notícia de mais um assassinato


Em primeiro de dezembro acordo com a triste notícia de mais um assassinato de mulher em nosso município, mais precisamente em um bairro próximo, bairro esse de gente pacata e ordeira. Uma jovem de 31 anos foi brutalmente esfaqueada e morta pelo companheiro. E um corajoso vizinho até tentou salva-la e também foi esfaqueado. A mulher já sofria violência, os vizinhos já haviam acionado a polícia e o que resultou daí não é do meu conhecimento. No mesmo dia outra mulher é assassinada em Cariacica, também pelo companheiro. E assim muitas mais são assassinadas diariamente pelo Brasil afora.

E fico estarrecida com os comentários subjacentes, comuns nessas casos, tentando arrumar uma justificativa para banalizar o ocorrido. E partindo de mulheres! Afirmou-se que houve consumo de drogas e que o fato não se configura como feminicídio. Nada disso justifica a morte da jovem, que já vinha sofrendo violência calada, como a maioria, e que não tinha os pais na proximidade para recorrer - pelo que informaram ambos residem muito longe. E ela deixa duas crianças para não sei quem criar, que vão carregar o trauma da tragédia sofrida pela mãe à vida inteira.

Seja feminicídio ou não, trata-se de morte brutal demais, de uma mulher que naturalmente se calou, pelo medo ou receio de denunciar os abusos que vinha sofrendo. O que leva essas mulheres a se calarem? Dependência financeira, insegurança, ausência de uma rede de apoio que promova resultados concretos? Tantos órgãos se mobilizam em defesa da mulher, nosso município é privilegiado com o Ministério Público e a Delegacia da Mulher atuantes, com a Patrulha Tranquilizadora da Polícia Militar, com a RAFA da Guarda Municipal, com o CREAS e os CRAS, com o Conselho de Direito das Mulheres, com funcionários capacitadas nos Postos de Saúde, e com a UCM, coletivo de mulheres feministas.  Todos empenhados na construção de uma sociedade igualitária, em que a mulher é respeitada e não vista como mero objeto do homem.    

Infelizmente a questão feminina ainda não foi incorporada até pelas próprias mulheres, que só entenderão o perigo que correm numa sociedade patriarcal, quando perderem uma filha, uma neta ou irmã nas mãos do machismo que reina, seja lá no bairro que for, com mulheres de qualquer raça, idade ou padrão social. A cultura que ainda prevalece e que remonta ao Brasil colonial é repassada através das gerações e incorporada pelo coletivo. A união das mulheres é um passo inadiável se pretendemos reverter a situação atual. Ou vamos à luta ou vamos à luta, não há outro caminho, ou continuaremos sobressaltas com a notícia de mais uma morte de mulher, e a próxima vítima pode até ser da nossa família.

 

Marilene De Batista Depes


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