Amor de mãe e outros mistérios - Jornal Fato
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Amor de mãe e outros mistérios

Muitas são as virtudes. O apóstolo Paulo considerava o amor como a mais importante


Muitas são as virtudes. O apóstolo Paulo considerava o amor como a mais importante. De todos os amores, o mais fascinante é o amor de uma mãe pelo filho. De todas as formas de amor, o amor de mãe pelo filho nada mudou. É o mais intenso. Cresce na saudade. Como na letra da música: "Saudade é o pior tormento/ É pior do que o esquecimento [...} Saudade é arrumar o quarto do filho que já se foi." Paulo Mendes Campos, um dos nossos melhores cronistas, escreveu: O amor acaba. O jornalista José Carlos Oliveira, logo em seguida escreve: O amor começa. Com as mães, o amor sempre recomeça no meio de uma noite ou numa manhã, bem cedo, nos cuidados ao filho.

Dos muitos mistérios da minha infância, o que mais intrigava era o pé da minha avó que não preenchia por inteiro o sapato ou chinelo, por isso mesmo, consumia a parte lateral dos calçados.  Apesar das muitas dúvidas que minha avó me deixou, a maioria foi com coisas alegres e divertidas. Um assunto instigante da atualidade é o transcendentalismo. Desperto, pela manhã, na escuridão. Logo, por cima do Itabira o clarão do amanhecer aparece e com ele um vermelhão se apresenta acima dos morros. Preenche um momento especial da natureza, o nascer do dia. Será isso a transcendência?

Nesses tempos de superficialidade nas relações e comunicação humana, bem como na rapidez da transferência de imagens pelos celulares, a visão da imagem segue-se nula quando não se sabe ouvir. O poeta goiano, radicado em Belo Horizonte há muitos anos, Libério Neves, anos atrás antecipava um texto sobre fragilidades e temores humanos: "Se, por acidente, moléstia ou velhice, algum dia eu vier a ver-me (resto) imóvel no lençol, a depender, por caridade ou pelo amor, do vosso gesto difícil, esse gesto de lavar meus panos de matéria e de limpar os meus resíduos deste mundo.../ {...} Quando (eu) assim restar, imovelmente mudo, contudo ainda vivo, estarei à todo instante, em mente, beijando as vossas mãos em mim santificadas... essencial talvez à filtração da alma."

Um mistério para mim é a memória da minha mãe. Nada lembra. Lembro eu dos seus cuidados. Lembro-me do ferimento no pé. Do tempo de criança, que a cicatriz não me deixa esquecer. Da longa distancia que percorremos para alcançarmos a sala de sutura no Pronto Socorro. Lembro os cadernos de desenhos e caligrafia que ela me ajudava a preencher. Lembro... A escritora americana, Susan Sontag, escreveu: "A enfermidade é o lado obscuro da vida, uma cidadania mais cara. A todos, ao nascer, outorga-nos uma dupla cidadania, a do reino dos sãos e a do reino dos enfermos. E ainda que prefiramos usar o passaporte bom, cedo ou tarde, cada um de nós se vê obrigado a identificar-se, pelo menos por um tempo, como cidadão daquele outro lugar." Desfazer mistérios é cuidar e se deixar tocar pelo sofrimento humano, tornar-se um radar de alta sensibilidade.

 

Sergio Damião Sant´Anna Moraes

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Sergio Damião Médico e cronista

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