Alguns instantes - Jornal Fato
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Alguns instantes


Ele observava o vai e vem das pessoas. Encontrava-se em Shopping Center, um dos poucos lugares seguros em nossas cidades. Lugar em extinção em grandes centros urbanos mundo afora. Substituído pela tecnologia e entrega digital. Algo a ser observado em povos latinos que adoram ver e tocar. As pessoas passavam à sua frente e não se importavam, não era notado, muito menos admirado, mesmo estando sentado em corredor de filas de lojas e outros atrativos. Mesmo estando esparramado em sofá luxuoso de frente a uma grande loja de departamentos. Apresentava-se sonolento em aparente desinteresse pela vida e as coisas mundanas. Era fim de tarde de um sábado. O sofá estava junto, ou à frente, de um banco de assento e ali as pessoas sentavam e rapidamente levantavam-se. Ele permanecia entre períodos de alerta e sono profundo. Mantinha-se sozinho em meio à multidão. Não se importava. Melhor assim. Era uma forma de descanso do mundo real e virtual. O sono, e os sonhos, ajudavam a viver. Em seus momentos de lucidez observava...

Uma jovem aproximou-se, mexia no celular, sentou. Cabeça baixa, nem um cumprimento, assim permaneceu, por alguns minutos. Logo se agitou. Olhava o relógio e retornava ao celular. Parecia incomodada, aflita, quase em desespero. Tempo depois, caminhou em direção à porta de saída. Um andar cambaleante. Ele parecia ver e sentir as lágrimas escorrerem no rosto daquela moça desiludida. Levou a tristeza de uma paixão não consolidada, a mesma que ele sentira tempos atrás. Por isso, um sentimento de cumplicidade com a jovem ausente; em seguida, sentou um rapaz. Altivo e elegante. Uma bela garota se aproxima, beijam-se nos lábios, o rapaz faz um afago nos cabelos daquela menina e estende-se ao rosto. Toca seus olhos e fala ao ouvido. Ela sorri. Guardam os celulares e fixam os olhares. Iniciam um diálogo. Corpos juntos. Uma intimidade intensa, própria dos seres apaixonados. Não demoram. De mãos dadas seguem Shopping afora, destino e trajeto não programado. Sem se preocuparem com os atrativos de loja. Bastam-se; ele seguia sentado. Bem mais alerta após o olhar nos jovens apaixonados. Despertava uma curiosidade que pensava estar perdida em tempos longínquos. De repente surge uma criança. Corria pelo corredor com os prováveis pais a seguir. Vigiando os primeiros passos daquele menino. A criança sorria. Um sorriso lindo de poucos dentes. Sorriso de alegria cativante. Olhava para trás, confirmando a presença dos pais, e seguia correndo pelos corredores. Os pais retornaram com o menino nos braços. Em aparente cansaço, deixam-se cair no assento à frente dele. O menino abraça a mãe enquanto observa o pai. Recebe o carinho do pai e procura com os olhos o Papai Noel que se anuncia. Levantam-se e caminham em direção que o filho aponta.

De todas as pessoas que ali passou, sentiu-se enternecido pelo casal de idosos que chegavam momentos antes de partir. Estavam sozinhos. A velha senhora ajudava. Ele não parecia importar-se, jogava-se no espaço apresentado. Antes de sair pareceu ouvir um grito de criança em tenra idade, alguns meses de vida, logo um menino aparece aos seus olhos. O velho senhor o toma nos braços. Ele que antes parecia desinteressado da vida... Abre um sorriso de alegria.

 

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Sergio Damião Sant'Anna Moraes

 


Sergio Damião Médico e cronista

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