Águas de Março - Jornal Fato
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Águas de Março

Para não perder a esperança, vamos aguardar pelas águas de março


Finalizei o ano passado mandando uma carta ao novo. Como 2018 foi o meu ano, cheio de realizações de sonhos e motivos para ser feliz, pedi que 2019 não fosse diferente. Ironicamente, na minha lista de pedidos, constava boas notícias. E sinto como se um ano novinho em folha ainda nem tivesse começado, embora fevereiro já esteja chegando ao fim. 

Os números de mortos e desaparecidos do crime cometido pela Vale em Brumadinho, proporcionalmente, são de estatística de guerra. Nunca se matou tanta gente inocente tão impunemente. O diretor-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, disse na Câmara dos Deputados que a Vale é uma joia brasileira que não pode ser condenada por um acidente, por maior que tenha sido a tragédia.  Eu não sei como anda a sanidade desse senhor, se é que ele ainda tem, de achar que matar e destruir são crimes puníveis apenas quando cometidos por pobres. Deve ser porque foi assim em Mariana, está sendo assim em Brumadinho e assim será enquanto seres humanos morrerem em nome do poder e do dinheiro. Insana deve ser eu. Doida varrida indignada, que chora diante dos noticiários com a sensação de inutilidade. 

"A gente tem que lutar pelos filhos. Tem muitos pais desistindo dos filhos. A gente tem que assumir com amor, ser uma presença na vida dele. Graças a Deus eu fiz o que pude e às vezes até o que não podia". Foi esse o depoimento de uma das mães que perdeu o filho no incêndio ocorrido na sede do Flamengo. Essa é a dor dilacerante de uma mãe que perde um filho, somada a dor de outras nove, junto com todos e cada um dos sonhos deles que queriam ser Messi, Neymar, Ronaldo ou Zico, mas morreram ilustres desconhecidos, queimados, com direito ao descaso do clube que, me parece, valoriza mais as cifras e o marketing que a dureza das mortes. 

E no embalo das tragédias de 2019, de inundações, acidentes, feminicídios e muita violência, acabamos de nos deparar com o desgoverno mais bagunçado da história do país. Em pouco mais de 50 dias foi tanta treta, mensagem de WhatsApp e disse-me disse que essa equipe mais me parece uma turma de 5ª série, com a desvantagem de ser composta por uma gente bem mais velha, safa, esperta e mentirosa. O projeto de reforma da previdência apenas sela e comprova o que acabei de dizer. Será que falta muito para acabar? 

Para não perder a esperança, vamos aguardar pelas águas de março. Que elas lavem sem fazer estragos, limpem e refresquem esse povo de tanto mal. E que, depois que o carnaval passar, 2019 recomece realizando as promessas que todo novo ano deve ter, de ser bom, leve e feliz.


Paula Garruth Colunista

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