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Admirar é preciso

Quantos casais vocês conhecem que demonstram, claramente, sentir inveja um do outro?


Quando nos apaixonamos, o momento de euforia nos faz enxergar apenas que tudo é e sempre vai ser lindo. Como nunca ou quase nunca as duas pessoas são iguais, juramos que essas diferenças não vão fazer nada além de nos completar. O tempo nos mostra que, com o cérebro no ritmo da paixão, nos enganamos. As diferenças que muitas vezes podem sim se juntar harmonicamente como peças de um quebra-cabeças causam também muitos estragos quando mal administradas.

Discordâncias e disparidades em uma relação existem e podem até ser saudáveis, mas há sentimentos destrutivos e perfeitamente humanos que precisamos trabalhar para que não virem uma bomba relógio. Quantos casais vocês conhecem que demonstram, claramente, sentir inveja um do outro? Sim. A palavra não é ciúme não. É inveja mesmo. Invejam posição, salário, talento, fama e sucesso. E, o que era para ser uma conquista comemorada a dois, termina como estopim para muitas brigas.

Uma outra questão é que quando a estima de um não é tão bem resolvida e ele precisa diminuir o outro para sentir-se melhor. Acho irritante casais em que um fala mal do outro em público, colocam barulho de sirene como toque de celular, mandam emagrecer, chamam de preguiçoso, proíbem de ir na academia, criticam a família e apontam falhas o tempo todo. Alguém deve estar lendo isso e imaginando que essas coisas não existem. Mas existem. E são mais comuns do que a gente imagina.

A cura para tudo isso é o diálogo? Sim. Mas muito mais do que isso, é a admiração pelo outro. O olhar de amor para aquelas coisas que não tem porque incomodar. Achar normal que ela ganhe mais; ficar feliz por ele ter tantos amigos; reconhecerem o talento um do outro; comemorar os trabalhos extras dele; encantar-se por ela estar desenvolvendo outras aptidões. Em uma relação de verdade a luz de um é a luz do outro. O candeeiro é um só.

E se um dia alguém esquecer uma toalha molhada na cama, um sapato no meio da sala ou uma panela queimando no fogo, lembrem-se de tantas outras vezes em que muito foi feito. Lembrem-se de quando um cuidou do outro, de quando choraram juntos, de quando fizeram a última viagem, de todas as gargalhadas que deram. Ela pode não fazer o feijão tão bom quanto o da sua mãe, mas tem o melhor cafuné do mundo. Ele pode ser um pouco distraído, mas nunca vai dormir sem dizer que te ama. Ela invade seu guarda-roupa, mas te dá um abraço apertado quando você chega cansado. Ele deixa as garrafas vazias, mas manda mensagem no meio da tarde dizendo que tá com saudade.

Ninguém é perfeito, mas é sempre muito bom em alguma coisa. Economize em criticar, esbanje em admirar. Permita que seus olhes brilhem quando você contar aos outros o quanto é especial o amor da sua vida.


Paula Garruth Colunista

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