A vida - Jornal Fato
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A vida


Recebo o desafio do amigo Wilson Depes, para escrever sobre o tema acima. Ele se diz admirador da minha forma de encarar a vida, e refletindo concluo que foi a luta pela sobrevivência que me moldou. Devo ter lutado para nascer, nona filha quando ainda não havia meios anticoncepcionais. Cresci muito só, irmãos bem mais velhos e pais idosos. Nasci no interior, numa época em que, sem os meios de comunicação, a barreira cultural entre roça e cidade eram enormes, e vim para a cidade totalmente deslocada do ambiente e das pessoas. E o espírito guerreiro foi se modelando.

Tomei conhecimento, há poucos dias, de que a vida pode ser comparada a uma letra U, em que somos felizes nos dois picos da letra, na infância e na velhice. Todo o restante do contorno da letra simboliza a nossa vida adulta - tempo do combate pela sobrevivência. No início da vida somos felizes pela despreocupação, pelo desconhecimento de grandes problemas. E no final, porque podemos desfrutar do que plantamos nos anos anteriores, é o tempo em que adquirimos a verdadeira liberdade de viver e ser feliz. E se tivermos saúde, amor e dinheiro, aí o ciclo se completa plenamente.

Voltando ao meu passado, tive alguns pontos positivos que me favoreceram, encontrei um companheiro para comigo compartilhar a vida, formamos uma família e lutamos muito, para darmos aos filhos as oportunidades que não tivemos, e para nos estabelecermos. Quando penso na minha vida entre os vinte aos cinquenta anos, confesso que tenho poucas lembranças, de tanto trabalho objetivando encaminhar filhos e família. E sempre fui impulsionada por uma vontade enorme de adquirir conhecimentos, era a minha forma de adequação. A partir dos cinquenta anos a vida tomou novo impulso. Sem tantas responsabilidades familiares, eu e meu marido viajamos muito, decidi fazer tudo aquilo que me fora impedido anteriormente, voltei a estudar, começamos a dançar - e a dança deu novo estímulo ao nosso casamento. E a possibilidade da morte eminente, por conta de uma grave doença, transformou-me no que hoje sou. Realmente vivo plenamente a vida, não temo a morte, mas ainda tenho muita vontade de viver. Agradeço a Deus, a cada dia, pelo sopro do criador, numa atitude de amor profundo por mim. E ainda, como Gonzaguinha, eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, e é bonita, e é bonita.

 


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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