A praça é do povo - Jornal Fato
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A praça é do povo

Esta crônica vem sendo gestada há algum tempo


Esta crônica vem sendo gestada há algum tempo. Antes, virou discurso na tribuna da Câmara Municipal de Cachoeiro. E sai publicada, aqui, justamente no dia em que ocorrerão (está ocorrendo) fatos sobre aos quais faço referência, com muita alegria em fazê-lo. Vai crônica-discurso:

Este sábado, 10 de agosto, provavelmente é o melhor sábado dos últimos anos, na Praça Jerônimo Monteiro. A 16ª Feira de Holambra estará presente (desde quinta, anteontem). E o que é a Feira de Holambra? Além das flores que vende, e que enriquecem a pequena cidade paulista de Holambra, é um exemplo para Cachoeiro, exemplo de como se mostrar para o País. E pergunto: - o que Cachoeiro faz, lá fora, para mostrar as coisas aqui de dentro? Não respondo - espero respostas.

Ao lado de se mostrar, Holambra, ao se reunir com o Lions Cachoeiro, há 16 anos ininterruptos, ainda traz algo fundamental para Cachoeiro: - Nos 16 anos de Feira, passam de 1500 as cadeiras de rodas para cadeirantes e portadores de outras necessidades especiais, doadas pelo Lions, a Cachoeiro. Não cobram pelas cadeiras, doam-nas. O lucro da feira é a solidariedade. Então, ai estão duas das maravilhas que estão fazendo o melhor sábado dos últimos anos, na Praça Jeronimo Monteiro.

Tem mais. Ao mesmo tempo, nesta manhã de sábado, terceira vez no ano, se apresenta o grupo de chorinho local PÓ DE MICO. Apresenta-se de graça, para mostrar a musicalidade de Cachoeiro. O grupo precisa de atenção. Nas duas últimas vezes que se apresentaram ali, não mais que 50 pessoas o assistiram, em cada apresentação. Eles voltaram. Que tal casa cheia?

E pelas 9 h do mesmo sábado, lados da Estação da Leopoldina, vem em caminhada, o Grupo MOVA.SE, que anda cuidando com qualidade e respeito dos portadores de dificuldades de caminhar por quaisquer dos lugares desse maltratado Cachoeiro (Olha o PDM aí gente!!!) E eles virão até a Feira de Holambra, até o Lions, clube que maior serviço presta, no sentido de minorar problemas que o Grupo MOVA.SE procura minorar também - PRESTEM ATENÇÃO NISSO.

E mais: - Há pouco mais de mês, na Galeria do Belas Artes, Praça Jerônimo Monteiro, funciona o SOBRADO DAS ARTES, e neste sábado, também. E ao Sobrado das Artes, vem se juntar, neste sábado cheio de coisas boas (frente ao BANESTES da Rua 25 de Março, 12), outro grupo de qualificadas artesãs - o EMPÓRIO DAS ARTES. E mais ainda, estará na Praça dos Taxistas, o artesanato da ARTECI. Tudo Cachoeiro.

Chamo a atenção para esses três grupos de artesanato de qualidade, todos no centro da cidade (ainda falarei de outros). Todos estão abertos nesta manhã de sábado, integrando com LIONS, HOLAMBRA, MOVA.SE e PÓ DE MICO, a nata da cultura de qualidade e da solidariedade cachoeirense. Tudo com pouco ou nenhum (acho que nenhum) recurso público.

Por favor, não deixe de comparecer. Hoje, sábado, 10 de agosto, manhã, centro da cidade. A sua ausência desanima - a sua presença enriquece a praça e Cachoeiro e incentiva benfeitores a progredirem nas boas causas.

Como diz Sérgio Ricardo, aliás, João Mansur Luft, em música que compôs e canta no clássico "Deus e o Diabo na Terra do Sol":

- "A praça é do povo / Como o céu é do condor / Já dizia o poeta / Dos escravos lutador /// Outro poeta dizia / Que até o mar se levanta / Quando na praça em festa / É o povo quem canta /// ... /// Outro poeta lembrava / Dos tempos da alegria / Na voz do povo em festa / Enchendo a praça vazia".

 

Frases Soltas

José Bonifácio de Andrada e Silva, Patriarca da Independência, 1823 - Acabe o péssimo método da lavoura, de destruir matas e esterilizar terrenos.

Millor Fernandes - Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.

José Marti - Se não lutas, tenha ao menos a decência de respeitar aqueles que o fazem.

Pedro Malan - Se você está insatisfeito com o governo só lhe resta aguardar a eleição.

Willian Blake - A abelha atarefada não tem tempo para tristezas.

Mário Benedetti - Há uma estranha alegria em saber que ainda conseguimos ficar tristes.

Padre Vieira - O governante é o mais necessitado de conselho, porque todos fogem de lhe dizer a verdade.

Padre Vieira - Todos os homens prometem a Deus o dia de amanhã e quase todos dão ao demônio o dia de hoje.

Rubem Braga - Há muito desanimei de querer as coisas deste mundo todas certinhas.

Higner Mansur - A Ilha do Meirelles merece tratamento muito superior ao que tem recebido hoje e nos últimos anos, pela Prefeitura de Cachoeiro.

Ralph W. Sockman - O teste da coragem vem quando estamos em minoria; o teste da tolerância, quando estamos em maioria.

Edmund Burke - Para o triunfo do mal basta que os bons fiquem de braços cruzados.

Ross Perot - Ativista não é o homem que diz que o rio está sujo. Ativista é o homem que limpa o rio.

Texto compartilhado - meu e de Ortega Y Gasset - Cuidar de nossa cidade e não da conquista de longínquas cidades esquemáticas.

Eliane Brum - Há realidades que só a ficção suporta. Precisam ser inventadas para ser contadas.

Erasmo de Rotterdam - Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comidas.

 

Como uma gente mata a outra gente

Hans Staden

O algoz golpeia o prisioneiro na nuca, de forma que lhe jorre o cérebro. Imediatamente as mulheres pegam o morto, arrastam-no para cima da fogueira, arrancam toda a sua pele, deixam-no inteiramente branco e tapam seu traseiro para que nada lhe escape.

Depois que a pele foi limpa, um homem o segura e lhe corta as pernas acima dos joelhos e os braços rente ao tronco. Aproximam-se, então, as quatro mulheres, pegam os quatro pedaços, andam ao redor das cabanas e fazem uma grande gritaria de contentamento. A seguir separam as costas junto com o traseiro da parte dianteira. Dividem tudo entre si. As vísceras ficam com as mulheres. Fervem-nas, e com o caldo fazem uma massa fina chamada mingau, que elas e as crianças sorvem. As mulheres comem as vísceras, da mesma forma que a carne da cabeça. O cérebro, a língua e o que mais as crianças puderem apreciar, elas comem. Quando tudo tiver sido dividido, voltam para casa, e cada um leva seu pedaço.

Aquele que matou o prisioneiro atribui-se mais um nome, e o chefe da cabana lhe faz uma incisão com o dente de um animal selvagem na parte superior dos braços. Quando a ferida está curada, veem-se as cicatrizes, e elas têm o valor de uma honrosa ornamentação. Durante estes dias o homem fica deitado na rede. Dão-lhe um pequeno arco com uma flecha, com o que deve fazer passar o tempo, e ele atira sobre um alvo de cera. Isso ocorre para que os braços não lhe fiquem trêmulos por causa do espanto com o golpe mortal. Tudo isso eu vi, e estive presente.

(Nota - Texto extraído do livro "Duas Viagens ao Brasil", do alemão Hans Staden, publicado em 1557. Ele mostra que não é a "raça" quem mata, quem mata é a "raça que está por cima". Como sabemos, Hans Staden foi feito prisioneiro dos índios brasileiros - tupinambás - e ficou em situação inferior - mas conseguiu escapar, para escrever a história que acabamos de ler.)


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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