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"Tatuagem"

Na última semana, enquanto dirigia, conversava com meu filho primogênito


Na última semana, enquanto dirigia, conversava com meu filho primogênito quando, a nossa frente, parada no sinal, vimos uma jovem motoqueira com muitas tatuagens. Ele acha lindo e, para tentar desestimular, comentei que achava excessivo daquele jeito. Se não bastasse, ressaltei que, ao envelhecer, as tatuagens não devem cair bem em uma pele flácida e enrugada, logo, indaguei: porque as fazer?

Ele, na flor da juventude, mas com uma visão crítica e desapegada dos excessos, fez o seguinte comentário:

- Eu? Quando ficar velho não vou me importar se a pele vai ficar flácida ou feia! Feia ou não, ao olhar para a tatuagem, vou lembrar de que um dia fui jovem, de que fui feliz e de que vivi!

Fiquei sem respostas, o que não foi a primeira vez. Mas refleti...

Conversa vai, conversa vem, quase chegando a casa, ele disse:

- Você esperava um filho moldado, caseiro, nerd, Deus lhe deu a mim, sorriu lindamente.

De fato, respondi:

-  Se Deus tivesse me dado filhos estilo robôs, daqueles modelos que "cheiram" perfeição, talvez, eu vivesse numa solidão só. Por isso, sou grata pelo esposo implicante e pelos filhos agitados, carinhosos, plenos de vida e muito do bem que tenho.

A vida é assim! Uma constante aprendizagem e, as vezes, em meio aos nossos "pré-conceitos", nossos olhos se abrem para enxergar que todos merecemos a felicidade.

Por vezes, sem esperar, somos levados a perceber o quanto precisamos evoluir para aprender a respeitar que cada um tem seu jeito de ser feliz; de se relacionar com Deus; de estar em paz e, desde que não viole o direito do Outro, de seguir em frente e, nesse caso, tudo bem. Afinal, quem é diferente? Sou eu ou é você?

É tão comum, numa sociedade capitalista, que pessoas morram de trabalhar, que tenham sucesso profissional e fracassos nas relações interpessoais, que vivam correndo sem enxergar a magia que há na simplicidade das coisas, que desaprendam a amar na essência do sentimento e que sejam tristemente ricos.

É tão comum a preocupação com a casa, com a roupa, com o carro do ano, com a faculdade dos filhos, com os amigos das proles que, por vezes, não nos preocupamos com a felicidade, com a paz e com a harmonia que há no percurso da breve vida.

Assim, nos esquecemos de que Deus nos revela que, "se cuida das aves do céu, quanto mais cuidará de nossas necessidades", o que, por certo, apesar de nos aliviar das ansiedades, não nos exime de nossas ações rumo à realização dos sonhos.

É tão comum que haja críticas à vida alheia; vigilância aos passos do Outro; fofoca; olhar destruidor em face dos que nos são diferentes que, não raro, nos esquecemos de que a felicidade não se embala em uma caixa de presente, pois ela não tem forma ou tamanho e, tampouco, tem cor. Isso é o belo: cada indivíduo vai encontrar, em sua própria essência, seu jeito de ser e de fazer feliz.

E, se a felicidade é verdadeira, ela não se importará com a vida alheia, ao contrário, quem é feliz plenamente carrega em si o desejo de, se não puder ajudar, também de não atrapalhar a vida daqueles que buscam seu próprio caminho.

Obrigado, meu filho! Sempre aprendo com você.

 

Katiuscia Oliveira de Souza Marins

 

        

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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