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Perder é um verbo impregnado de significados tristes


Perder é um verbo impregnado de significados tristes. Perda de um amor, objeto, sonhos, esperança, saúde, do rumo e do passo que parecia seguro e definitivo. Infindável.

Sugere sempre a sensação de vazio e aflição. Mesmo que o objeto perdido seja reencontrado, nada será igual porque as perdas envolvem reprogramação e recomeço. Sem o que, ou quem, fez parte de nossa vida e de nossa história, a gente começa de novo, só que despedaçado. Não sou inteira, nem a mesma, depois que perdi o meu irmão há dois anos.

Por isso, nada me aflige mais do que ter notícia da morte de jovens, seja de morte morrida ou matada, como diria um amigo de infância. É avassalador. Nossos jovens, principalmente negros e pobres, estão sendo mortos pela exclusão social e pelo preconceito. Mas também pela indiferença e pelo ódio. Muito triste é quando nosso descaso de cada dia mata pessoas de todas as idades. Homens e mulheres, jovens e adultos, ninguém escapa da maldita indiferença.

Ela mata, ou permite morrer, seja por descuido de ter percebido e ignorado, ou por não ter percebido a dor do outro, o grito preso na garganta. Falo isso pensando na pessoa que se matou essa semana, aparentemente sem ter dado sinais de que alguma coisa estivesse errada. Levou a vida até onde suportou.

Isso num país que tem a maior taxa de pessoas com depressão da América Latina, 5,8% da sua população, doença que atingiu 800 mil pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, com dados de 2017. Coincidência ou não, 5,8% é o mesmo índice de suicídio por 100 mil habitantes, segundo a mesma OMS.

Os números são tão alarmantes que a Organização quer reduzir em 10% os casos de mortes por suicídio até 2020, num país em que 106.374 pessoas se mataram em 2016, segundo dados do Ministério da Saúde.

Não podemos permitir que nossos jovens, e que ninguém, seja pobre ou rico, negro ou branco, heterossexual ou LGBT, tenha motivos para se matar por causa da depressão e do descaso.  Nós podemos ser melhores que isso e nos importarmos mais, mesmo num país que naturalizou a violência e a exclusão social.

Abrace, ame e se importe mais. O mundo tem jeito. Mas é preciso dar o primeiro, o segundo e todos os passos que forem necessários. Que o sentimento que invade corações no Natal e a santificação presentes na Semana Santa abram os nossos olhos e nos façam melhor todos os dias do ano. Quem sabe assim percebamos o outro e suas dores.  Nós podemos. Vamos dar as mãos. Vem comigo?


Anete Lacerda Jornalista

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