Quem sou eu?

Sempre quis ter certeza absoluta do sucesso das coisas que, cheia de boa vontade e bons propósitos

26/06/2020 10:28
Quem sou eu?

Sempre quis ter certeza absoluta do sucesso das coisas que, cheia de boa vontade e bons propósitos, me propus a fazer ao longo da vida.  Mas às vezes, muitas vezes, isso não aconteceu. Já colhi fracassos retumbantes, daqueles que levam a questionamentos pouco nobres e a uma vontade enorme de fazer pirraça e sair chutando tudo.

Mesmo assim, com lágrimas nos olhos e dor na alma, respirei, e respiro fundo a cada fracasso, e lembro que fiz uma escolha pelo que considerei o certo a ser feito. Não comecei a caminhada com a certeza da vitória, mas com a convicção de que aquele era o caminho ideal a ser trilhado. Sabia que enfrentaria obstáculos, desafios, percalços e muitas pedras, mas desistir nunca foi uma opção.

Lembro, mais uma vez, da questão do meu poder de optar pelo que realmente me parece a coisa certa, mesmo que esteja na contramão dos acontecimentos e seja minoria. Então, olhando por esse ângulo, sou uma pessoa de sucesso ou fracassada? Bem sucedida aos olhos de quem? E da mesma forma, fracassada segundo que valores e referências? Aprendi, e aprendo todos os dias, que as ambições dos outros não devem me mover ou me frustrar.

Mais que isso, que devo fazer escolhas por coisas e pessoas que quero ao meu lado nos dias maus, quando a vida se tornar complexa demais e for fonte de angústia, sofrimento, dores e conflitos. Singelas ou complexas, as escolhas são minhas e eu decido o rumo a ser seguido, pagando o preço por minhas escolhas, sem atribuir a responsabilidade das minhas bem ou mal- aventuranças aos outros.

Lembro também da importância de ter ombros amigos para conforto nos momentos mais difíceis e de um versículo da Bíblia que muitas vezes é mal interpretado: ?suportai-vos uns aos outros em amor?. Suportar nesse contexto não é aturar. É dar suporte. Aí surge a pergunta. A quantas pessoas tenho dado suporte em amor, fora da pandemia, e especialmente, em tempos de distanciamento social? E mais que isso. Do que e de quem realmente sinto falta numa época em que, por força de um vírus invisível e mortal, que me atingiu diretamente e à minha família, obrigou todos a ficar em casa?

Não tenho, ainda, uma resposta pronta, quanto a coisas e pessoas que me fizeram falta no isolamento social e quarentena, mas sei que pós-pandemia serão bem menos do que julgava imprescindíveis.  Creio que a pandemia de fato fez, a duras penas, uma seleção natural pelo que de fato é essencial.

Então, em tempos de angústia, perdas irreparáveis, dor e sofrimento, percebo que nunca mais serei a mesma. Sou definitivamente outra e às vezes nem eu me reconheço. Se isso é bom ou ruim, só o tempo dirá. Quem sou eu?