Etarismo, ageísmo, idadismo

Era assustadora a dualidade juventude x velhice, que hoje vejo ser uma grande besteira

29/01/2021 08:18
Etarismo, ageísmo, idadismo

Envelhecer não é para os fracos. Já percebi isso lá atrás, desde que comecei a ser chamada de senhora e que resisti a usar óculos, quando aos 40 anos os braços foram ficando curtos demais para conseguir ler qualquer rótulo ou manual de instrução. Era assustadora a dualidade juventude x velhice, que hoje vejo ser uma grande besteira.

Convivo melhor com as marcas do tempo, não sem cobranças ou angústias, confesso. Sei que a velhice veio para ficar e que não preciso buscar uma identidade falsa para desfrutar do meu lugar no mundo. Eu conquistei esse direito e as marcas do tempo apenas ressaltam todas as batalhas que enfrentei e venci. Olha que coisa boa!

Não é crime envelhecer e se isso não está claro para os outros, que esteja grafado em letras garrafais para nós que já passamos dos 15 faz tempo, mas insistimos em ter esperança e sonhos. Se as pessoas nos limitam, não devemos em hipótese alguma aceitar imposições que nos pesam o corpo e a alma. Sabe o quanto é difícil encaixar um espirito de 20 num corpo com mais de meio século? Eu sei. Pode acreditar.

A cabeça está sempre a mil, com ideias variadas que fervilham e provocam inquietação, mesmo com a passagem dos dias. Sempre digo que me apaixono pelo que faz o meu olho brilhar. E não perdi essa paixão pelas coisas e pessoas que valem a pena com a passagem do tempo. Mais do que nunca entendo que o envelhecimento aprimora a capacidade de discernir e até mudar de opinião porque o que outros pensam não é mais problema nosso.

Mas como nada é fácil na vida das mulheres, somos mais afetadas pelo etarismo do que os homens. Então se já temos que sobreviver ao machismo, nos defrontamos com o fato que na cabeça do mercado (que usa jovens para anunciar produtos para nós) e de quem contrata, o envelhecimento apuraria os homens e deterioraria as mulheres. Ledo e grotesco engano que já afetou 48% das mulheres que relatam já ter sofrido discriminação no trabalho por conta da idade, segundo relatório da Maturijobs.

Como se perdêssemos a nossa capacidade profissional, mesmo que estejamos nas pós- graduações, mestrados e doutorados, nas aulas de música e dança, no curso de arte, nas viagens pelo mundo, no pilates, nas corridas de rua, no Tinder e no mercado como consumidoras de grande potencial. Sempre encarando e desafiando os riscos. E sendo diferencial de qualidade e competência nas equipes de que fazemos parte. Mande a prática do etarismo para onde achar melhor sempre que cruzar com ela pelo caminho.

O idadismo, ageísmo ou etarismo é uma grande burrice e não é envelhecer que torna tudo mais difícil, mas o preconceito que insiste em nos atropelar a cada esquina. Resta escolher se vai encarar o processo do envelhecimento com ou sem brilho no olhar. Porque não se iluda. Envelhecer é inadiável.