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Apesar de desejar muitos anos de vida, mais ainda após o nascimento do meu neto Bernardo, não posso fugir do assunto da Terminalidade da vida


Com o passar do tempo vamos acumulando coisas. Coisas que só conhecemos seu real valor quando as perdemos. Um bom exemplo é a nossa saúde. Mais ainda é a qualidade de vida, algo que nos permite envelhecer saudável e não contar os anos de vida simplesmente. "Vivemos como se nunca fossemos morrer e morremos como se nunca tivéssemos vivido."  O fim é inevitável. Morreremos todos, as vaidades podem ser desprezadas. Sendo assim, há necessidade de testamentos: Vital e de Bens pessoais. O testamento Vital é aquele que realizamos no pleno gozo das nossas faculdades mentais, com o objetivo de dispor acerca dos cuidados, tratamentos e procedimentos que desejamos, ou não, ser submetidos quando com uma doença ameaçadora da vida e fora de possibilidades terapêuticas e de manifestar nossas vontades. Na verdade, uma maneira de evitar prolongar sofrimentos e angústias nossas e de familiares. Por isso, em vida, podemos, após esclarecimentos dos médicos, decidirmos aquilo que gostaríamos que fosse feito ao nosso corpo. O testamento Vital é ético e previsto pelo Conselho Federal de Medicina. Realizado após diálogo entre família, médicos e o desejo da pessoa. Os Cuidados Paliativos - um ramo da medicina voltado para o Término da vida, em crescimento devido o envelhecimento da população e as doenças crônicas degenerativas e incuráveis, é a opção para muitos dos pacientes com testamento Vital. O que se busca é o direito da morte com dignidade. A vida e a morte numa dimensão ampla e espiritual. A sociedade ocidental foge do assunto. Devemos nos manifestar em vida, comunicar aos nossos familiares nossos desejos. Se não falamos, ou escrevemos, eles nunca vão saber, ficarão inseguros, e perdidos, nesses momentos difíceis.

Apesar de desejar muitos anos de vida, mais ainda após o nascimento do meu neto Bernardo, não posso fugir do assunto da Terminalidade da vida. Outro momento, sobre o qual devemos conversar, é em caso de acidente grave, em estado de possibilidade de doação de órgãos. Nesse momento, não podemos decidir, deixo claro: Sou doador de órgãos (córnea, coração, rins, fígado...). Nesse caso, além do meu desejo em vida, a família tem que confirmar a doação. Felizmente, minha saúde anda bem. Mantenho diabetes controlado, atividade física regular e alimentação saudável. Faço minha parte. Deixo por conta de Deus o restante. Sem nunca perguntar, caso algo saia do esperado, por que eu Deus? Assim, faço o meu testamento: Meus bens financeiros, o espólio está previsto em lei. Aqueles de valor sentimental carrego comigo diariamente, permanecem dentro do meu carro. Apesar de achar que vai demorar muitos anos para serem entregues, faço a distribuição. Deixo meu guarda-chuva que se assemelha a uma sombrinha de praia, todo verde e com a logomarca da Unimed, para os funcionários do CRE; as várias canetas Bic, adquiridas dos colegas e conhecidos desatentos nos empréstimos, deixo para a hemodiálise da Santa Casa e Evangélico de Cachoeiro; para os meus filhos Vitor e Helomar, minhas noras, Diene e Karina, e para Fabíola, minha esposa, deixo meu estetoscópio; para os peladeiros do Clube dos Médicos, minha chuteira. O meu bem mais precioso, minha bandeira do Flamengo, deixo para o meu neto Bernardo, para que ele nunca se esqueça do time do meu coração.


Sergio Damião Médico e cronista

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