Leia o teor da delação que implica Casteglione, Irineu e Rodrigo - Jornal Fato
Política

Leia o teor da delação que implica Casteglione, Irineu e Rodrigo

O ex-diretor regional da Odebrecht, Renato Amaury Ribeiro acusa o atual secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Trabalho, Carlos Casteglione e o advogado José Irineu ? ambos do PT, de terem solicitado R$ 2 milhõe


O ex-diretor regional da Odebrecht, Renato Amaury Ribeiro acusa o atual secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Trabalho, Carlos Casteglione e o advogado José Irineu - ambos do PT, de terem solicitado R$ 2 milhões para eleger o deputado estadual Rodrigo Coelho, nas eleições de 2014. Segundo ele, R$ 640 mil foram pagos, em três parcelas. A primeira no final de 2013, no valor de R$ 240 mil, e as outras duas, de 200, até a metade do ano da eleição.

 

O processo foi relatado pela Procuradoria-Geral da República e enviado ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin. Como os citados não possuem foro privilegiado, o termo de delação de Renato Amaury Medeiros foi repassado à Procuradoria Regional da República.

 

O depoimento do delator foi gravado, está transcrito abaixo e também disponível no vídeo acima.  


Cachoeirenses negam envolvimento

Em entrevista ao jornal A Gazeta sobre a delação, o ex-prefeito de Cachoeiro, Carlos Casteglione (PT), disse que nunca se encontrou com ninguém da Odebrecht e que quando assumiu a Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, em 2008, já existia o contrato de concessão com a construtora.

 

"Minha relação com funcionários da empreiteira era totalmente institucional, não conheço nenhum Renato Amaury Medeiros. Minhas prestações de contas estão todas aprovadas. Nunca solicitei recurso para a eleição do deputado Rodrigo. Em momento oportuno vou me defender e provar que nunca tive relação com isso", afirmou.

 

Ao mesmo jornal, Rodrigo Coelho reiterou que jamais se encontrou com qualquer executivo da Odebrecht e que não autorizou a utilização de seu nome para fins que não se coadunam com a legislação eleitoral.

 

Não foi possível contatar José Irineu, mas em entrevista ao FATO, assim que seu envolvimento foi revelado, disse que Casteglione tem todas as suas contas aprovadas e não tem com o que se preocupar. "Eles terão que provar. Irei me defender e não tenho motivo algum para temer qualquer coisa. Certamente será provada a minha inocência", disse.

INTERROGADOR - Agora o senhor vai relatar, para nós, neste depoimento aquilo que o senhor apontou como sendo práticas irregulares em Cachoeiro de Itapemirim.

Renato Amaury Ribeiro -  A concessão privada de água e esgoto de Cachoeiro de Itapemirim é de 1998 e foi adquirida pela Odebrecht em 2008. É um dos melhores serviços de saneamento do país e constantemente visitada por representantes do poder público. É o único município do estado do Espírito Santo com serviço 100% privado, o que chamamos de concessão plena. Nesse contexto e a pedido de Fernando Cunha Reis, de que identificasse liderança políticas que fossem favoráveis ao saneamento e que nos permitisse conduzir de forma adequada os nossos projetos, eu identifiquei e levei a Fernando a possibilidade de apoiar o PT de Cachoeiro de Itapemirim, que é um polo do sul do Espírito Santo.

 

O governo do PT, em Cachoeiro?

Naquela época o prefeito era do PT, Carlos Roberto Casteglione Dias. Estava no segundo mandato. E uma outra pessoa desse grupo era o senhor José Irineu Oliveira, presidente do diretório, na época, do PT em Cachoeiro. Esse grupo, liderado pelo senhor José Irineu, havia solicitado contribuições da Odebrecht para financiar as campanhas do PT. Em favor do projeto político desse grupo de se manter no poder e reeleger o PT num novo mandato.

Diante desse cenário, o Fernando Cunha Reis definiu e autorizou que fizéssemos contribuições ao PT de Cachoeiro. Determinou que elas seriam feitas via caixa 2. A primeira contribuição que a Odebrecht fez neste período - no período em que estive como diretor regional - foi de 240 mil reais, no segundo semestre de 2013. Esse valor foi definido por Fernando. Programado por Eduardo Barbosa, que era um funcionário de Recursos Humanos que cuidava da consolidação desses pagamentos junto ao departamento da construtora, que fazia isso. Eu passava as informações de data, endereço e senha para que fossem recebidos esses recursos.

 

Na realidade os pagamentos eram para manter a normalidade do contrato.

Isso. Do meu ponto de vista era manter a normalidade do contrato e do ponto de vista eles era eleger candidatos do PT. Essas informações de data, endereço e senha eram repassadas a José Irineu, eu fazia chegar a ele, que tratava desse recebimento.

No primeiro semestre do ano seguinte, de 2014, numa das minhas visitas e viagens ao Espírito Santo, eu me encontrei, uma única vez, com o prefeito Casteglione e o senhor José Irineu. Foi uma reunião pedida por eles. Foi no escritório da Odebrecht em vitória, que naquela época ficava na Avenida João Batista Barra, 633, edifício chamado Office Tower.

Esse edifício tinha registro de entrada, mas eu não pude apurar esses registros porque a Odebrecht não tem mais escritório lá. E eventualmente também é possível que eles tivessem entrado pela garagem. Que estivessem com motorista, pois estavam em Vitória por algum compromisso deles.

Nesse encontro, o senhor José Irineu e o prefeito renovaram os pedidos de apoio financeiro ás campanhas do PT. E me explicaram que o principal projeto do PT naquela região era eleger o deputado Rodrigo Coelho à Assembleia Legislativa. Que ele fosse muito votado, etc., que ele viria futuramente se candidatar a prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, o que manteria, portanto, o PT no poder.

 

Eles falaram em valores com o senhor?

Nesse dia eles indicaram que pretendiam receber da Odebrecht dois milhões de reais para essas campanhas. Que uma campanha para deputado era muito cara, tinha que se no estado todo etc. Eu encerrei a reunião... não prometi nada, até porque fiquei um pequeno período na diretoria e não tinha delegação de tratar, negociar, como de fato nunca fiz diretamente, om essas pessoas. Mas levei esse tema ao Fernando Cunha Reis, que determinou que nós contribuiríamos com mais 400 mil reais ao diretório do PT de Cachoeiro.

 

O senhor falou mais 400 mil. Quanto tinham dado antes?

240 mil.

 

A quem?

O interlocutor, senhor José Irineu Oliveira.

 

Isso foi quando, esses 240 mil?

Esse foi no final de 2013.

 

Certo. Pode seguir.

Então, o Fernando determinou esse valor de 400 mil reais e ele de fato foi feito provavelmente em mio e junho, conforme eu pude apurar nesse sistema drauzios, em dois pagamentos de 200 mil reais.

Depois que eu saí da diretoria regional, em junho de 2014, eu não acompanhei mis essas questões de Cachoeiro de Itapemirim.

 

Pelo sistema do setor de operações estruturadas, qual foi o codinome dado para identificar esses pagamentos?

Esses pagamentos foram identificados com o codinome gavião. Os três.

 

Como o senhor mencionou, só teve contato direto com o Irineu e o Carlos Roberto no escritório de Vitória.

Isso.

 

Conseguiu identificar, obter o registro de entrada? Não né?

Não. Não consegui.

 

Justamente pela possibilidade de ele terem entrado pela garagem.

É. E a Odebrecht não tem mais escritório nesse local também.

 

Essa solicitação não foi formulada diretamente ao senhor, né? Foi formulada ao seu superior?

Veja: essas solicitações vinham localmente, do pessoal que tem contato ali direto com os políticos, etc. Algum gerente trouxe a mim essa solicitação. Fernando costumava checar com as lideranças políticas desses políticos a propriedade de fazer essas contribuições ou não.

 

Todas essas contribuições ocorreram em 2013, né? Final de 2013.

Não.  A primeiro no final de 2013, a e 240 mil, e as outras duas de 200 mil no final do primeiro semestre de 2014.

 

Nesse período e até mesmo depois daí, foi colocado algum tipo de empecilho ao regular funcionamento do sistema de saneamento lá?

Não. Não. Não ocorreu nenhum fato específico relacionado ao pagamento ou não pagamento de contribuições.

 

Antes disso, tiveram algum problema com o sistema...

Não. Não.

 

Era mais uma garantia para vocês terem de que não seriam importunados.

É... poderia. Do meu ponto de vista era isso. Mas é uma concessão normal, regular. Que você recebe s tarifas dos contribuintes, direto. Quer dizer, não tem muita variação aí de...

 

Era uma prática da empresa, até de natureza, vamos dizer, preventiva fazer esse tipo de contribuição pra políticos, lideranças locais, todas não contabilizadas?

Não posso dizer isso. Posso afirmar que nesse período que estive na diretoria regional, isso ocorreu com alguns contratos que estavam sob minha supervisão.

 

Contratos estratégicos...

Contratos regulares.

 

Além dessa de saneamento, tinha alguma outra obra que a Odebrecht tocava em Cachoeiro?

Não.

 

Os detalhes da entrega dos recursos o senhor não sabe, né? Como foi repassado.

Não.

 

 

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