Gratuidade custa caro - Jornal Fato
Política

Gratuidade custa caro

Valor integral da passagem, do cinema e de ingressos para shows tem embutido o ?preço? das gratuidades


O vereador Alexandre Maitan (PDT) criou projeto que assegura gratuidade a jornalistas em eventos (Foto: Arquivo/Fato)

 

Leandro Moreira

 

É de graça! Esta expressão parece ter um poder psicológico capaz de induzir o receptor da mensagem a fazer até o que não pretendia, unicamente pela ausência do custo financeiro. Ainda do lado do ouvinte, os menos atentos podem também se deixar ludibriar com discursos demagogos sobre gratuidade, camuflando que tal serviço é pago por alguém ou, até mesmo, por ele, através de impostos por exemplo.

 

Em um país onde as diferenças produzem cidadãos hipossuficientes, com fragilidades no ponto de vista econômico, jurídico, político e social, é pacificada a ideia de concessão de gratuidades a essas pessoas. Como é o caso do benefícios a idosos, estudantes e outras categorias ou grupos.

 

Com exceção daquilo que é considerado justo, o excesso de gratuidades preocupa a quem concede e onera quem paga o valor integral, onde está embutida a compensação do benefício ofertado. E, por vezes, gera revoltas.

 

No último dia 11, por exemplo, o vereador de Cachoeiro de Itapemirim, Alexandre Maitan (PDT), protocolizou projeto de lei garantindo a radialistas e jornalistas o direito a meia entrada em eventos. A inciativa gerou revolta nas redes sociais, onde questionaram o porquê de só uma categoria profissional ser contemplada e reclamaram de um possível aumento no preço dos ingressos, consequentemente.

 

Para justificar o projeto polêmico, o vereador alegou que esses profissionais "são responsáveis por grande parte da divulgação de eventos que acontecem em nosso município. E a presença desses profissionais assegura, em grande parte, o sucesso e divulgação dos eventos, das casas de espetáculos, além dos atrativos municipais."

 

Falsificação do benefício gera prejuízos em eventos

 

O direito à meia-entrada aos estudantes na compra de ingressos para eventos não gera intrigas entre aqueles que produzem os shows e nem é um fato que eles associam a eventuais prejuízos. A origem do ônus é a falsificação de carteiras de estudante; e o pior: é inviável compensar no aumento dos ingressos.

 

"É muita gente que apresenta 'carteirinha' falsa. Às vezes, a gente consegue identificar; o problema é que não tem como investigar a todo momento. O prejuízo é certo, porque, por outro lado, se eu aumentar o preço do ingresso, perco clientes", explicou o drama a proprietária do Arena Mix, Yolanda Louzada Pim.

 

Na mesma linha pensa o promotor de evento e assessor parlamentar Ramon Silveira. "O impacto só é sentido quando se tem a falsificação das carteirinhas de estudantes e de outros meios que são beneficiados, se não houvesse tanta falsificação de carteirinhas de estudantes com certeza o impacto não seria grande. Seria, sim, justo aquele que tem o benefício de verdade poder se beneficiar".

 

"Quando começamos a montar um evento, tudo é levado em consideração. O Brasil é o único país que, por lei, estudantes, profissionais da educação, idosos e deficientes físicos têm direito à 'meia entrada'. Temos um grande problema que é a falsificação de documentos para garantir a 'meia entrada', que, consequentemente, acarreta um maior número de gratuidade e faz com que a arrecadação da portaria seja relativamente menor ao esperado. Dessa forma, os valores tornam-se "mais altos" para garantirmos um evento de qualidade e a satisfação do cliente", disse Rafael Marinato, produtor da Banda D14.

 

Cinema

 

A proprietária do Arena Mix disse que pode perder os clientes se aumentar o preço do ingresso (Foto: Divulgação)

 

O proprietário do Cine Perim, Augusto Borges, disse que no seu ramo o preço é tabelado e que as gratuidades são maiores ou menores de acordo com os filmes que estão em cartaz. Ele considera que, neste caso, os benefícios têm impacto natural no lucros porém, há um lado compensador.

 

"Quando o filme é infantil, 99% dos ingressos têm desconto; e há sessões que o percentual inverte. O lado bom das gratuidades é que o beneficiado divulga para outros sobre o filme e esses podem não ter o mesmo direito sobre o valor bilhete. No todo, o importante é ser assegurada a diversão, tanto que investi no acesso a cadeirantes e obesos".

 

Passagem de ônibus seria R$ 2,70 sem as gratuidades

 

Atualmente, cerca de 45 mil pessoas têm direito à gratuidade ou à meia na tarifa de ônibus (Foto: Divulgação)

 

O gerente de tráfego da viação Flecha Branca, integrante do consórcio Novotrans - responsável pelo transporte coletivo de Cachoeiro -, Renato Borges, disse que, atualmente, 45 mil pessoas têm direito a gratuidades (ou meia) no município. Com isso, por mês, a média é de 240 mil viagens gratuitas.

 

Renato afirma que, se não houvesse a gratuidade, a passagem custaria hoje R$ 2,70. "Esse custo fica praticamente para a empresa, uma vez que R$ 3,40 seria o valor que cobre os nossos custos. Temos um prejuízo mensal superior a R$ 500 mil só relacionado a gratuidades", disse.

 

De acordo com Borges, a empresa transporta diariamente cerca de 45 mil passageiros; considerando que 20% das viagens são gratuitas, 9 mil andam de graça por dia - o que representa 5% das população de Cachoeiro.

 

Têm direito ao benefício os renais crônicos; deficiente mental, mais o acompanhante; portador de tuberculose; guarda municipal; agente de trânsito; policial militar e civil; ficais da prefeitura; professor da Apae; professor do Lions; carteiros; crianças abaixo de 5 anos; comissário de menor; oficial de justiça e portador de HIV.

 

"Temos cadastrados mais de 16,5 mil idosos; mais de 1,7 mil professores e mais de 21 mil estudantes que pagam meia passagem. Mais de 2,8 mil portadores de necessidades especiais e 600 acompanhantes. Só o benefício aos idosos representa R$ 500 mil".

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