Deputado rejeita o PT, mas aliados ficam na prefeitura - Jornal Fato
Política

Deputado rejeita o PT, mas aliados ficam na prefeitura

Em dezembro, Rodrigo Coelho entrou com ação para sair do partido, mas disse que pôs cargos à disposição do prefeito


O deputado estadual Rodrigo Coelho tomou, em novembro, atitude que escancarou de vez o seu distanciamento do PT. Mas, apesar disso, um mês depois, ainda se mantém influente na gestão municipal, através de mais de 20 servidores em cargos-chave e com bons salários.

 

Coelho entrou com ação no TRE para tentar se desvincular do partido sem perder o mandato, ainda a tempo de se filiar a outra agremiação - antes, já fora foi rejeitado pelo Pros e pelo Rede Sustentabilidade -  para concorrer à Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim.

 

Para justificar a saída, desfiou críticas a acontecimentos nacionais. Fez inventário que vem do Mensalão à prisão do senador Delcídio Amaral (ver no quadro), mas poupou o diretório local da agremiação, embora se queixasse corriqueiramente da falta de apoio dos companheiros de partido.

 

Mais do que estratégia para negociar, depois, o apoio da sigla - que não serve mais para abrigá-lo - a uma candidatura sua, como se chegou a cogitar, a condescendência pode ter explicação ainda mais pragmática.

 

Embora tenha dito que o PT "expõe ao escárnio seus filiados", e que a militância do partido em Cachoeiro não passa de lenda, é da gestão petista que continua tirando boa parte de sua subsistência política.

 

São mais de 20 indicados por ele, direta ou indiretamente, mantidos em cargos estratégicos na gestão municipal. Inclusive parentes.

 

Na lista estão pelo menos quatro secretários municipais, com vencimentos de R$ 7,5 mil, nove subsecretários e dois consultores, que fazem jus a R$ 3,5 mil mensais, quatro gerentes, que recebem R$ 2 mil, e dois coordenadores, com salários de R$ 4,3 mil.

 

Todos à frente de programas ou posições estratégicas nas secretarias de Educação, Meio Ambiente, Fazenda, Gestão Estratégica, Obras, Cultura, Desenvolvimento Econômico, Serviços Urbanos, Gestão de Projetos e Agersa.

 

Coelho diz que entregou os cargos

 

Deputado diz que avisou ao prefeito sobre sua saída e que o deixou à vontade para tomar quaisquer medidas

 

 

Por telefone, o deputado Rodrigo Coelho negou que mantenha apadrinhados na gestão municipal. "Eu tenho relação com muita gente, mas se estão lá, não é por minha causa. Principalmente neste segundo mandato (do prefeito)".

 

Segundo ele, antes de ingressar com a ação que visa sua saída do PT, comunicou ao prefeito Carlos Casteglione sua intenção e o deixou à vontade para adotar as medidas que julgasse necessárias.

 

"Disse a ele que minha saída não é, de forma alguma, gesto de rompimento. Não faço e nem farei oposição. E ele pode contar com o meu mandato para o que for bom para o município", disse.

 

O parlamentar explica que a missão que a política lhe trouxe, "não se concentra em Cachoeiro e não cabe no PT" e que as críticas que fez foi ao partido como instituição e não aos integrantes da sigla. E recomenda: "minha saída deveria ser momento de reflexão para o partido. É preciso analisar o porquê disso".

 

Coelho ainda não teve julgado o seu pedido de desligamento, mas acredita que isso ocorra a tempo de concorrer às eleições. E lembra que, embora ainda não tenha nada definido, pode vir a se filiar em partido da base do governo, pois, como já dito, em seu horizonte, a política local já não ocupa lugar de tanto destaque e as decisões futuras vão depender de conjunturas superiores.

 

 

Pediu para sair

 

O deputado estadual Rodrigo Coelho em 9 de dezembro com processo no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) com o objetivo de deixar o PT, sem correr o risco de perder o mandato, por infidelidade partidária. A alegação, para tentar a justa causa, é de que "o partido tem se desviado, reiterada e substancialmente, seu programa partidário".

 

Rodrigo ingressou no PT em 1999. Para deixar o partido agora, contratou renomada banca de advogados, do escritório Chein Jorge e Abelha Rodrigues. Usa como argumentos os casos de corrupção no governo federal, como o Mensalão e o toma lá dá cá, de cargos em troca de apoio político, instituído pelas gestões nacionais da sigla.

 

 Além disso, segundo ele, a tentativa de desmoralizar a operação Lava Jato e a postura de taxar de golpe da direita o pedido de impeachment contra a presidente Dilma, são demonstrações de que o partido se desviou de seu programa. "A postura do PT expõe, portanto, seus integrantes a verdadeiro escárnio público, que mancha o patrimônio político daqueles que se mantêm fiéis ao programa partidário".

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