?Candidatura do Lula é um desserviço a ele e ao país? - Jornal Fato
Política

?Candidatura do Lula é um desserviço a ele e ao país?

Ciro Gomes (PDT) acredita que é preciso despertar aliança entre os setores que produzem no Brasil e os do trabalho


"Não serei candidato de um grupo estreito de esquerda" (Foto: Divulgação)

 

Leandro Moreira

 

Após prender a atenção de todo o público presente no evento da Sicoob Sul, realizado na quarta-feira (26) em Cachoeiro de Itapemirim, a partir da apresentação de sua visão da realidade econômica do Brasil, o ex-ministro e pré-candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT), conversou sobre política com a reportagem do jornal ES de Fato.

 

Na entrevista, que teve a participação de nossa colunista Regina Monteiro, Ciro garantiu que somente deixará de disputar o pleito do próximo ano se o seu partido não deliberar. Porém, confessa que uma candidatura do ex-presidente Lula (PT) ofuscaria a sua, principalmente, segundo ele, pelo protagonismo do ódio instalado hoje no Brasil.

 

ES de Fato - Em meio a série de palestras que o senhor tem ministrado pelo mundo afora, tem sobrado tempo para construir sua pré-candidatura à presidência da República?

 

Ciro Gomes - Eu sou a mesma pessoa. Evidente que não mudo minhas convicções, minha compreensão técnica, que é a natureza dessas palestras, pela minha posição política. O que muda é o tipo de linguagem e o tempo: em uma palestra desta falo por uma hora e respondo mais uma hora de perguntas; evidentemente, que em uma reunião política é preciso ser mais econômico. Mas, o que acho necessário neste instante, enquanto a gente ainda pode, é aproveitar que as paixões não se exacerbaram ainda e tentar refletir sobre um método que deveria orientar o debate. Porque se formos para as eleições de 2018 com esta novela moralista, que passa a sensação para o povo de que somos todos iguais, estaremos destruindo a democracia.

 

Existe algum cenário que o senhor não viria como candidato?

 

Serei candidato dependendo somente da deliberação do PDT. O que tenho dito, por amor à franqueza, porque trato as pessoas como merecedoras da verdade - embora às vezes seja mal compreendido -, é que se o PDT decidir que serei candidato, serei e ponto final. Porém, não gostaria de ser em circunstância em que o Lula seja, porque uma candidatura como a minha imediatamente seria difícil de ser encontrada pelos eleitores. Se o Lula entra, ele passionaliza o ambiente: o ódio contra ele e a paixão a favor dele vão ser os piores conselheiros e o país precisa dar um passo adiante, dar passagem a novas ideias, novas interlocuções, novo jeito de olhar o problema brasileiro.

 

(Regina Monteiro) - O que o Ciro Gomes leva para uma mesa de negociação e o que para o Ciro é inegociável?  

 

Levo para a mesa de negociação um projeto completo, que é só a minha contribuição para um debate que deve ser generoso, fraterno. Eu levo uma vida de experiência, de intransigência moral e o entendimento deve ser o mais amplo de generoso possível. Entretanto, eu não transijo com corrupto e não faço acordo com determinadas forças. Vejo que um governo, como o meu, para nascer bem, sinalizando que de fato haverá uma coisa nova no Brasil, anuncia logo de véspera que o PMDB será oposição a mim.

 

O senhor disse que uma candidatura de Lula poderia ofuscar a sua. O senhor pensa em conversar com o PT e tentar costurar, de repente, um apoio do ex-presidente?

 

Não creio também que seja justo, pois o Lula é muito maior do que eu e acho que a natureza do PT é ter um candidato. E eu não me sinto, nem remotamente, obrigado a explicar as gravíssimas contradições de uma parte importante do PT, não tenho nada com isso, muito pelo contrário. Fui ministro do primeiro governo do Lula, acho que nenhum deles duvida da minha lealdade, do meu compromisso. Quando se escalou o golpe contra o Lula, naquele primeiro mandato, eu fui para a linha de frente. Estive com ele até o tempo presente. O Ceará (terra natal do pedetista) deu 2/3 dos votos contra o impeachment (em desfavor à ex-presidente Dilma Rousseff (PT)), arrostando incompreensões. Então, nenhum deles tem direito de duvidar da minha decência, lealdade e da identificação de qual lado estou na política brasileira. Só que volto a dizer: a candidatura do Lula é um desserviço a ele e ao país.

 

Por que?

 

Porque passionaliza o ambiente, transforma o ódio e o rancor político em ferramentas centrais. Hoje, as pessoas querem a prisão do Lula ainda que ele não tenha sequer o processo constituído. Isso tudo é ódio. Como é que Lula vai tocar a agenda se, na melhor hipótese, ele ganhar?

 

O Lula não vindo como candidato e a sua candidatura representando a esquerda, o senhor não acredita que este ônus possa pesar sobre o senhor?

 

Não serei candidato de um grupo estreito de esquerda. Para bem governar o Brasil, o projeto que eu advogo precisa de uma aliança de centroesquerda. Na prática muito concreta, precisamos despertar aliança entre os setores que produzem no Brasil e os do trabalho. Esta sociologia está madura para acontecer no país, com a mediação de um homem que tem experiência, a capacidade de compreender os problemas e propor soluções práticas para as grandes interdições do desenvolvimento que o país está sofrendo hoje.

 

Pela conjuntura atual, considerando quem ainda está 'de pé' diante das investigações da operação Lava Jato, o senhor consegue projetar quem seriam os nomes em 2018?

 

Acho que será uma eleição, se o Lula não for candidato, como eu calculo, parecida com a de 1989: haverá cinco ou seis candidatos, com 10, 15, no máximo 20% dos votos e eu posso ser um deles, com muita segurança.  

 

 

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