A greve que marcou a história capixaba - Jornal Fato
Polícia

A greve que marcou a história capixaba

Sem a PM nas ruas, dezenas de lojas foram saqueadas em Cachoeiro de Itapemirim e em outros municípios. Assassinatos foram registrados de norte ao sul do estado.


A manifestação que durou 22 dias provocou uma onda de violência que resultou em mortes, saques e caos (Fotos: Arquivo/Fato)

 

Neste sábado (03), a greve da Polícia Militar no Espírito Santo completa um ano. A manifestação que durou 22 dias provocou uma onde de violência que resultou em mortes, saques, caos, interrupção de aulas e fechamentos de muitos comércios, tirou a paz dos capixabas.

 

No dia 3 de fevereiro de 2017 familiares de policiais militares iniciaram protestos em frente aos batalhões da PM, impedindo a saída das equipes. Eles reivindicavam melhores condições de trabalho, reajuste salarial, adicional por periculosidade, entre outras exigências.

 

Depois que a manifestação se instalou em Cachoeiro de Itapemirim, centenas de pessoas saíram às ruas e saquearam lojas. No município, foi em torno de R$ 1 milhão de prejuízo no comércio. No estado, as perdas foram de R$ 45 milhões ao dia com as lojas fechadas, sem considerar as ocorrências de depredações e assaltos.

 

No dia 06, após o caos começar em Cachoeiro, alguns militares decidiram furar a paralisação em frente ao 9º batalhão e desceram ao Centro para tentar controlarem as ações dos criminosos. Mas a paz não durou muito e a PM logo voltou à manifestação.

 

Greve ilegal

 

No mesmo dia, a justiça considerou a manifestação ilegal e determinou o fim do movimento e estimou uma multa diária de R$ 100 mil para as entidades que não obedecessem às ordens.

 

Foi determinado que os familiares e amigos dos policiais desobstruíssem os acessos dos quartéis, porém, os manifestantes permaneceram em frente ao 9º batalhão, querendo negociar com o governo.

 

Solução

 

Para solucionar os problemas causados pela paralisação da PM, o prefeito Victor Coelho, em reunião com o juiz Robson Louzada Lopes, pediu para que a Guarda Municipal fosse, excepcionalmente, armada, para contenção emergencial dos atos criminosos.

 

O juiz deferiu o pedido e entregou as armas aos agentes, que ajudaram que a normalidade retornasse ao município.

 

População

 

A PM ainda não havia voltado às ruas e, no dia 08, a população resolveu protestar na frente do batalhão.

 

Cerca de 80 pessoas se reuniram em frente ao quartel para pedir a volta dos militares. Segundo os manifestantes, eles se sentiam enganados, pois a PM não voltou às ruas e as mulheres não permitiam o término da paralisação.

 

Apelo

 

Ainda no dia 08, o chefe do Comando de Polícia Ostensiva da Região Sul (CPO SUL) da Polícia Militar do Espírito Santo, tenente-coronel Alexandre Quintino Moreira, apelou aos militares que voltassem às ruas. O pedido foi gravado e causou grande repercussão em todo o estado.

 

Em seu discurso, o oficial disse que todos os policiais já haviam provado à sociedade o seu valor e que ela precisava deles. Depois disso, o comandante Emerson Caus chegou a anunciar o fim da greve, porém, mais uma vez, a manifestação não terminou.

 

Apoio Nacional

 

No dia 11, o Governo do Estado solicitou ao Governo Federal auxílio, com o envio de tropas das Forças Armadas e Força Nacional para a garantia da ordem.

 

Governo federal enviou ao Espírito Santo 3130 homens, 180 veículos, três helicópteros e 7 blindados. Desse total, 300 homens eram da Força Nacional de Segurança. Cachoeiro recebeu 120 militares.

 

Fim da greve

 

Após 22 dias de paralisação, os militares resolveram voltar aos trabalhos no dia 25 de fevereiro e as famílias começaram a desocupação da frente dos batalhões.

 

O comandante da Polícia Militar do Espírito Santo, Coronel Nylton Rodrigues, durante uma coletiva, pediu desculpa aos capixabas pela greve e pelos horrores vividos pela população.

 

 

Investigação

 

Polícia indicia 60 por saques em Cachoeiro

 

Logo após os roubos, a Polícia Civil iniciou investigação para descobrir os autores dos saques e localizar os materiais roubados. Sessenta pessoas indiciadas e 663 objetos foram recuperados na ocasião. Para o trabalho, os investigadores contaram com a ajuda das imagens do videomonitoramento da prefeitura.

 

A Secretaria de Defesa Social do município entregou aos investigadores 38 horas de gravações geradas pelo sistema, que é operado sob coordenação da Guarda Civil Municipal. Segundo a polícia, mais da metade dos investigados foi identificada por meio das imagens.

 

Implantado em parceria com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), o sistema de videomonitoramento conta com 40 câmeras atualmente.

 

A reportagem contatou novamente a Polícia Civil para averiguar se houve novidades nas apurações.

 

Segundo a assessoria de imprensa do órgão, algumas investigações foram prejudicadas por perda de material de comprovação criminal, mas alguns casos foram solucionados. No entanto, ressaltou que os números não são informados "por uma questão estratégica".

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