Coleções - Jornal Fato
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Há bastante tempo parei de colecionar objetos. Garrafas raras, figurinhas, cartões postais e revistas já fizeram parte do meu acervo, mas me ocuparam um espaço que não mais disponho. E eu não digo de espaço físico apenas, embora sejam importantes e eu os quero cada vez menores e com menos coisas, sem camadas de poeiras ou possibilidades de traças, mas falo também de espaço de vida, porque quero que meu tempo na terra seja dedicado a coisas mais importantes que o acúmulo. Bagagens? Trago minha alma cheia. A maior de todas as lições que a maturidade me trouxe foi a de que momentos, sorrisos e abraços valem infinitamente mais do que roupas e sapatos.

Quanto aos amigos, não faço questão que a coleção seja grande. Quero que seja valiosa, como tem sido até aqui. Meu desejo é que nunca faltem, mas que eu também saiba dizer não aos oportunistas, invejosos, falsos e dissimulados. Espero que meus olhos estejam cada vez mais atentos e minhas portas, sempre abertas, cada vez mais seletivas. Quero conviver com todos para que a vida seja leve, e suportar os defeitos e as fraquezas de cada um, para que os meus sejam também suportados. Mas amigos serão sempre apenas aqueles que estiverem perto, mesmo que longe. Que se alegrem comigo na alegria e me façam entender que a dor, às vezes, é necessária, mas que estarão por perto para ajudar ainda assim.

Quero continuar colecionando alegrias, viagens e aprendizados. Porque tristeza não guardo não. Delas eu acabo esquecendo. Sei que, provavelmente, eu tenha chorado no ano passado. Mas não lembro nem o dia e nem o motivo. Passou. E dentro de mim abriu-se espaço para qualquer outra coisa que faça meu coração dar cambalhotas de felicidade. O que tem aqui guardado de decepção é porque é recente, então, é só esperar que passa. Nenhuma dor é tão forte que me faça lembrar dela por toda a vida.

No mais, quero bolsas e malas leves e uma vida cheia e plena. Guardar as gargalhadas, os dias e noites com Filipe, o café com os amigos da câmara, os jantares de comida japonesa com Alinne, as aventuras gastronômicas com minhas amigas divas, os diálogos quase monólogos com minha mãe. Quero guardar as farras que só a minha família sabe fazer, as emoções que a literatura já me proporcionou, as lições que o meu trabalho todos os dias me dá. Até a saudade de quem já foi guardo com mais carinho que saudade.

O que ainda resiste em baús são fotos, alguns papéis e poucos livros que resistiram às minhas tempestades de desapego. E a certeza de estar fazendo a coisa certa aquieta me coração e me ajuda a desejar apenas o essencial.


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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