´O bêbado e o capeta´? em primeiro na Academia - Jornal Fato
Notícias

´O bêbado e o capeta´? em primeiro na Academia


O empresário cachoeirense Valmir de Oliveira Thomaz venceu, na categoria nível local, o IV Concurso "Claudionor Ribeiro"? com o conto "O bêbado e o capeta"?, um divertido e surreal texto que o Espírito Santo de FATO publica no final da matéria.

"Sempre gostei de escrever e já participei de vários concursos de redação nos tempos de escola, mas premiação em competição aberta ao público é a primeira vez"?, conta o autor.

Ele revelou ainda que o texto premiado faz parte de um livro que está escrevendo, mas ainda sem data de lançamento. "Soube do concurso, escolhi um trecho do meu primeiro trabalho e consegui sair vencedor"?, comentou Valmir.

O resultado foi divulgado ontem e a data da solenidade de premiação ainda não foi marcada, mas acontece até o final deste mês, segundo o presidente da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), David Alberto Lóss, que organiza o concurso. Os três melhores concorrentes recebem, além de medalhas e diplomas, prêmios em dinheiro, que são os seguintes: 1º lugar "" R$ 500,00; 2º lugar "" R$ 300,00; 3º lugar "" 200,00.

Com temática livre, o certame tem como o objetivo incentivar, divulgar e enriquecer a produção literária, e, principalmente, despertar o gosto pela linguagem escrita, em prosa.

Cada concorrente, nos "níveis"? estabelecidos pela ACL, pode apresentar até dois trabalhos inéditos, em três vias, com três páginas e sem qualquer identificação.

Os melhores contos, segundo a comissão julgadora, foram: além de O Bêbado e o Capeta (1º lugar nível local), "Raízes e Asas"? (1º lugar nível estadual), de Ana Paula Herzog Simões, de Vitória; "Visão Fabular"? (2º lugar), de Genilton Vailant de Sá; "O mestre e os discípulos"? (3º lugar), de Humberto Del Maestro; "Bendito Seja!"? (4º lugar), de Paulo Simões de Oliveira.

 

O conto vencedor (nível local)

 

O bêbado e o capeta

Quando tinha uns 16 anos, morava num bar abandonado de meu pai, que era anexo à casa de minha família, minha cama ficava entre muitas grades de cervejas, refrigerantes e baratas, sim porque baratas adoram restos de refrigerantes e principalmente cerveja.

Sempre aos fins de semana, quando chegava de alguma festa de madrugada, abria a janela do "meu quarto"? e ficava contemplando o silêncio e aproveitava para ler, escrever e ouvir música. Em uma destas madrugadas, quando escutava músicas e pensava em algum amor platônico, fitei de longe meu vizinho chegando trêbado, cambaleando de um lado para o outro da rua.

Fiquei assistindo àquela odisséia etílica rindo por dentro, porque era bem engraçado, afinal, o efeito da maryjane não tinha passado totalmente. Perto da entrada da casa deste cidadão que chamarei de Joacir, tinha um pé de roseira, que era cuidadosamente podado pela Joana, sua irmã. Seus galhos eram parrudos e seus espinhos eram como esporas gigantes super afiadas.

Para minha surpresa, quando meu querido vizinho cambaleou para o lado da roseira, ele tropeçou e caiu sobre aquela planta super aconchegante e, sem mais nem menos, começou a se vingar a cada espetada que levava, sendo totalmente imobilizado pela planta, ele esperneava e trocava socos e pontapés com a pobre e indefesa roseira.

Essa luta durou uns dois minutos e quando ameacei pular a janela para ajudá-lo, ele se levantou, bateu a "poeira"? e saiu de nariz em pé com ar de vencedor. Para minha surpresa, o assunto do bairro no dia seguinte era que o Joacir tinha levado uma coça do capeta, por ter ido ao Bailão do Elias ao invés de ir para igreja.

Claro que ele apanhou do capeta, pois que homem arranharia outro? Que mulher teria unhas tão profundas e finas? Só podia ser o demônio, o sete pele, o capeta, ninguém mais poderia ser.

O que mais se ouvia era a frase: "Viu, quem frequenta ambientes do "bixuruin"? só pode acabar assim"? ou "Tá vendo, se tivesse ido à igreja não tinha apanhado do Satanás"?. Entre outras.

Como eu era assíduo freqüentador de ambientes do bixuruin e minha mãe sabia, (minha mãe era uma cristã exemplar) ela tentou me convencer com os mesmos argumentos.

Eu não quis desiludir minha mãe, reduzindo o capeta a uma mera roseira, então dei cordas e fiquei questionando: "Por que o diabo vai bater em alguém que faz o que ele quer, não deveria bater em alguém que estivesse voltando da igreja? Ir à igreja não desagradaria mais ao diabo do que ir ao Bailão e encher a cara?"?

Bom, foi como um julgamento, eu era o advogado do diabo (roseira) e minha mãe, de Deus. Nunca conseguiram me convencer com ameaças e terrorismo, encontrei Deus sozinho, no silêncio do meu quarto, lendo e ouvindo música.

 

Comentários