O amor está no ar - Jornal Fato
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O amor está no ar

Sobre a alegria e as dores do amor muito aprendemos com os poetas, espelhos de almas


"Tira-me o pão, se quiseres, / tira-me o ar, mas / não me tires o teu riso." (Pablo Neruda).

 

"Se tu me amas, ama-me baixinho / Não o grites de cima dos telhados / Deixa em paz os passarinhos / Deixa em paz a mim! / Se me queres, / enfim, /
tem de ser bem devagarinho, Amada, / que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."
(Mario Quintana)

 

"Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia. / Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera." (Clarice Lispector)

 

"Eu possa me dizer do amor (que tive): / Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure." (Vinicius de Moraes)

 

Sobre a alegria e as dores do amor muito aprendemos com os poetas, espelhos de almas, mas ainda não li poesia que retrata que há posse no ato de amar ou que o amor permite matar. Já li que se morre por amar, mas que se mata, ainda não. E, confesso, se há poesia assim, não serve para mim. Gosto da poesia leve que nos ensina que o ato de amar, embora as vezes traga dor, vem carregado do desejo da alegria do amado, do querer o sorriso de quem se quer bem, vem cheio de silêncio, de paz, de calmaria e, do bem que no amor há, gosto das revelações de que o amar não se acaba.

É bem verdade que muitos poemas transbordam as lágrimas que jorram de um amor não correspondido ou do sofrimento de um amor perdido. Mas hoje é dia dos namorados!!! Criação comercial ou véspera do dia de Santo Antônio, "santo casamenteiro", é o dia do ano no qual os amantes se encontram, se declaram e priorizam estar juntos, logo, que sobressaiam hoje as poesias de alegria.

Contudo, muitos amores reais são carregados de barulhos, de declarações públicas em redes sociais, mas de promessas vazias que são construídas no cotidiano de um ninho egoísta, agressivo, possessivo, que violenta e mata em nome do amor. Mas o amor de verdade não permite matar! Ora, como se poderia tirar o mal do que é puro, doce e bom?

Muitos se dizem amantes, mas só querem seu bem próprio e não conhecem a graciosidade também havida na renúncia, no perdão e na doação ao amado. Isso não é amor!!! É qualquer coisa confusa, simulada e enganosa, mas amor não é.

Amar é doação, é partilha, é ver além das aparências, é conhecer os defeitos e, mesmo assim, querer estar junto. Mas, junto para somar, multiplicar, compartilhar e não para sugar o que o(a) amado(a) tem a oferecer. Amar é ser gentil, é controlar os temperamentos não sociáveis e partilhar cuidados 365 dias do ano, não apenas no dia 12 de junho, mas todos os dias entre 01 e 31 de janeiro a janeiro.

Todavia, que, no dia dos namorados, o cuidado seja dobrado e, me perdoe Vinicius de Moraes com "seja infinito enquanto dure", que hoje, seja o primeiro ou seja o quinquagésimo encontro, que os namorados inaugurem o início de um amor que nunca se acabe. Assim, como diz Clarice, se a escrita ou outro dom nos faltar, que não nos falte o amor até a nossa hora de morrer. Deste modo, nunca estaremos sós, pois o amor impõe a partilha que, por sua vez, não ocorre na individualidade.


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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