Dalton Temporim - Jornal Fato
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Dalton Temporim


O cidadão me fala tipo assim: - "Pera aí que eu vou ali beber água na bica", mas o que ele me falava foi isso: - "Entre mudas que plantei e mudas que dei, deve beirar pra mais de setenta mil, nesses quase quarenta anos em que comecei a mexer com coisas roça... coisas de árvores e suas sementes, que é o que eu gosto mesmo".

Para mim, mero escritor de palavras vãs, repetidor de experiências alheias, que quase nunca atingem seu objetivo; que, se estou certo (pois de vez em quando duvido), plantei uma única árvore na vida inteira, árvore de frutas pequenas a qual nem me lembro qual seja, era uma espécie de sensação de severa humilhação, humilhação boa, vá lá, de ouvir tanta simplicidade vinda do cidadão de 66 anos de idade e nem parecia ter tanto.

De fato, ante a grandeza do que produziu e ainda produz o cidadão, era sua simplicidade que imperava no nosso diálogo, assistido pelo Dr. Vicente, tendo à frente a imensa árvore da chuva:

- Como assim, plantar e doar mais de 70 mil mudas de árvore e ficar com aquela simplicidade de simples "vou ali beber água?" - "Nunca cobrei ou vendi uma muda, não é para isso que as preparo. Faço porque gosto, pelo prazer da doação de um ser vivo que apenas cuidei, mas foi abençoado por Deus - uma pequena árvore. Não tenho que cobrar nada de ninguém; não posso cobrar pelo dom e pelo prazer que Deus me deu. Graças a Deus, Deus me deu".

Estou falando de Dalton Temporim, cidadão cachoeirense nascido na roça, proximidades da comunidade da Tijuca, aqui perto, que veio vindo devagar para a cidade de Cachoeiro, ao tempo em que a pobreza da vida no campo espantava tantos para cá; que foi se adaptando por aqui; que foi empregado em mais de um balcão de comércio até construir seu próprio balcão, seu próprio comércio.

Há algum tempo tornou-se patrão de si mesmo - comércio de baterias de veículos, nos caminhos urbanos do Bairro Novo Parque - Baterias Guandu.

Mas não deixou - como deixar? - de preparar e colher suas plantinhas, matrizes de pequenas ou imensas árvores que cresceram e crescerão abrindo sombra e germinando novas sementes para repetir o movimento da vida que ele ajuda a acontecer. Há outro jeito de fazer isso? Creio que não. Vai aqui o abraço e o reconhecimento desse escritor de más linhas mas que, aqui, acertou em cheio, claro.

 

Expo-Sul Rural

Há muito tempo eu não via uma Exposição Rural com tanta qualidade, como a que está acontecendo no Parque de Exposição de Cachoeiro, tendo à frente o Sindicato Rural, coadjuvado por mais de dezena de apoios e patrocínios.

A exposição vai até o dia 15 de abril - domingo.

O fato de que os empreendedores estão despertando para a questão da regionalização é muito bom e promissor, vez que nossa região Sul do Espírito Santo é muito pequena para que cada município, inclusive Cachoeiro, se arvore em fazer carreira solo, em vez de dividir entre si a festa e o progresso - como faz agora.

Ao mesmo tempo, a diversificação das atividades da Exposição, atingindo aquilo que sempre atingiu - bois e agricultura - e mais artesanato, música, turismo, ecologia, alimentação, escolas, etc., colabora em muito para o sucesso do empreendimento.

Nesses nossos tempos pós-modernos, ou se unem os interessados das diversas atividades, ou a coisa se transforma em coisinhas simples demais.

No meu caso específico, saúdo a ampla participação do artesanato regional, muito bem representado, bem como, ainda, é a primeira vez que vejo isso, há décadas: a programação cultural da Expo-Sul é toda voltada para artistas do Sul do Estado, nada de bandas caras de outras regiões.

A terceira EXPO-SUL, - não duvido - virá muito melhor em 2019, fruto do bom trabalho e da experiência acumulada.

 

Lição de Gilson Caroni

(Crônica publicada em agosto de 2011 - Atual?)

O principal problema das Câmaras Municipais não são quantos vereadores têm. O problema das Assembleias Legislativas, da Câmara dos Deputados e do Senado também não é quantos parlamentares têm cada parlamento. O principal problema, que transforma o Legislativo em mero e caríssimo penduricalho, é o desvio de finalidade. Criado para legislar para o povo e fiscalizar o Executivo, o legislativo se amesquinhou, transformou-se em moleque de recados do Executivo na maioria dos parlamentos.

Nenhum Poder Legislativo é desmoralizado se cumpre as funções de legislador e de fiscal. Todo Poder que cumpre suas funções constitucionais merece automaticamente o respeito da sociedade. Mas tem sido difícil encontrar poder legislativo que se limite a exercer os poderes que a Constituição Federal lhe outorgou, deixando de lado agrados ao executivo e aos do povo, que pede o que não deveria pedir.

Acostumou-se a jogar as mazelas do legislativo na cara dos representantes desse Poder Legislativo. Melhor (ou pior?), acostumou-se a tripudiar deles pelas costas, como se fossem os únicos responsáveis pela bagunça. São responsáveis sim, mas estão lá atrás na fila dos que faltam com a responsabilidade. Bem à frente estamos nós - quase a unanimidade - cidadãos e eleitores que nunca cobram nada dos parlamentares, que nunca cobram deles que exerçam a função de legislar e de fiscalizar. Limitamo-nos, a maioria, a exigir, à boca pequena, só para que amigos próximos ouçam, que eles sejam contra ou a favor do Executivo, conforme nossas circunstâncias e não conforme as circunstâncias da sociedade. Alguns (ponham "alguns" nisso) chegam a perseguir ou imprensar vereadores, para ver se conseguem algum cargo comissionado para si ou para alguém próximo, na maioria das vezes parente (restaure-se a moralidade, ou locupletemo-nos todos, dizia Sérgio Porto).

Enquanto se critica vereadores que negociam favores com o prefeito, ou parlamentares que fazem o mesmo em Vitória ou Brasília, esquecemo-nos de que a fonte inesgotável de favores é o Executivo do Prefeito, do Governador e do Presidente da República. Basta o Executivo fechar a torneira e não haverá "negócios" com os parlamentares. Mas, parece, quem gosta de negociar é o Executivo, para manietar o Legislativo. Poder que recebe favores de outro Poder, paga na mesma moeda, paga com novos favores, e quem se ferra é o povão, cuja maioria também gostaria de participar do festim.

É o oroboro, serpente que morde a própria cauda, que faz o círculo que se fecha em si mesmo. A solução não aparece nunca em círculo vicioso.

Se o Executivo, em momento de lucidez, acabasse com o "eu emprego os seus indicados, você vota nos meus projetos", teríamos - só por isso - melhora substancial no legislativo. Mas isso eu queria ver.

Gilson Caroni, prefeito que não deu emprego a afilhados de vereadores e que não os ameaçou, fez governo honesto, e os vereadores o seguiram na honestidade. Dizia-me Gilson com frequência: - "é só isso, cada um faz sua parte e o benefício é, até e em primeiro lugar, do Executivo. Com o Legislativo cumprindo sua missão não há Executivo corrupto".


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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