Ano (Semana) do Artesanato em Cachoeiro - Jornal Fato
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Ano (Semana) do Artesanato em Cachoeiro


Não sei quantas vezes falei no artesanato de nossa cidade e de nossa região, nesta página e por aí; não sei quantas vezes ainda falarei - espero sejam muitas, vez que o artesanato é das mais perfeitas atividades para quem tem aptidão, das que mais ajunta pessoas em redor de coisas simples e boas. Quem faz artesanato geralmente é feliz, e se for reconhecida na sua arte, bota mais felicidade nisso.

Por isso que estou sempre escrevendo sobre artesãs, artesãos e artesanatos. Que coisa é melhor que ver a felicidade dos outros e, de quebra, ver a cidade reconhecida por isso?

Acredito que 90% do pessoal do artesanato - ou mais - sejam mulheres. Acredito que menos de 2% deles e delas se dedicam ao artesanato do mármore e do granito, tão abundante na nossa região (em matéria prima). Há, pois, muito espaço para muito mais gente da terra - e sempre focando em Cachoeiro, meu olhar se estende para bem mais além das fronteiras do município; para os municípios vizinhos e para a região Sul do Estado, das praias às montanhas do Caparaó, das divisas com o Estado do Rio ao limite imposto pela Rodovia Vitória-Belo Horizonte, no que corta o Estado.

Especialmente nesta semana a cidade brilhou quanto ao artesanato. É a semana do Artesão, que concentrou no Mercado São João, na boca da entrada do Bairro Amarelo, não só uma centena de artesãos e artesãs, como, também, nova visão, que espero permaneça, da administração pública municipal, que retoma antigos projetos, alguns não executados e, pareceu-me, pretende incorporar novas atividades administrativas no setor e no Município, buscando conhecer melhor o "locus" e as questões dos artistas.

Pessoalmente, veja essa movimentação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico municipal com muito interesse e esperança, ainda que não possa deixar de dizer que meu olhar está, também, lá no futuro, quando se haverá - todos nós - de prestar contas, boas contas, aceno.

(Entrementes, espero seja informado a quantas anda a futura reforma do Mercado São João e se ele, mercado, permanecerá com os artesãos e artesãs da cidade - endereço perfeito para eles, bem como para o exercício de culinária local preparada por nossos bons profissionais, artesãos, também, é claro).

 

Visitando Cachoeiro

 

Quem passou, nesta semana, por Cachoeiro, foi a Secretária de Cultura do Estado do Rio Grande do Norte, Isaura Amélia Rosado Maia. Aproveitando visita pessoal que fez a parentes que moram aqui, fez questão de visitar pontos importantes da cultura, da música e da literatura de nossa cidade, demonstrando, assim, que basta ter aonde visitar e divulgação razoável a nível nacional... e as coisas acontecem.

Como se tratam, a Casa de Roberto Carlos e a Casa dos Braga, de locais agradáveis, com boas instalações para visitantes, com servidores para informar a história das casas e de seus moradores (Roberto Carlos e Rubem Braga, entre outros), a visitante saiu bastante impressionada com o que viu, não deixando, é claro, de tomar o famoso cappuccino do Café Mourads, no centro na cidade, justamente numa mesa/gabinete que existe por lá.

Que a secretária potiguar volte sempre à cidade, sempre com alegria e que a administração pública não mais descuide de nosso patrimônio histórico-cultural, como era comum outrora, noutras administrações.

(a foto mostra a Secretária visitando Rubem Braga).

 

A Destruição das Florestas

 

Rubem Braga

 

O Espírito Santo tem mais de seiscentas variedades de madeira.
O Espírito Santo possui madeiras de lei, madeiras brancas e madeiras moles em uma abundancia maravilhosa.
O Espírito Santo ocupa o quinto lugar no Brasil entre os Estados exportadores de madeira.
As florestas do Espírito Santo, devido à predominância de certas essências, têm maior valor econômico do que as cantadas e decantadas florestas da Amazônia.
As madeiras de lei existentes no Espírito Santo são dia a dia mais procuradas na Europa e na Argentina.
O imposto sobre a exportação de madeira é uma belíssima fonte de renda do Governo do Espírito Santo.
Pois o homem que vive no Espírito Santo, numa inconsciência alarmante, vai destruindo, a ferro e fogo, todos os dias, essa riqueza inestimável.
Por onde o homem passa com sua ambição e sua imbecilidade, desaparece a pompa verde das matas e nasce o deserto.
Ele é a praga da terra.
Pequeno e mesquinho, se intromete no seio da floresta imensa e inicia sua tarefa maldita.
Quando parte, deixa o descampado, a terra cansada, o deserto.
Ele é o criminoso perverso e ingrato. Para viver um dia, destrói a vida das florestas de mil anos.
A natureza é generosa e lhe dá comida fácil e vida descansada: ele agride a natureza, e queima-lhe os tesouros inexauríveis.
Ele é o mais pernicioso dos animais, porque é uma besta pensante, um parasita consciente e covarde.
Mas este destruidor há de sentir sobre os ombros o peso da maldição que sua obra invoca. Ele destrói a sua própria riqueza, o seu próprio futuro.

Quando o verde luxuriante das florestas for substituído pela tristeza dos descampados sem vida, o trabalho do homem será mais pesado e menos rendoso.
Terá de encher de adubos e trabalhar pacientemente esta terra que hoje inutiliza em sua fúria ambiciosa.

O braço que alteia o machado há de se cansar do trabalho árduo de tirar da terra cansada e seca o pão de cada dia.
O homem que faz o deserto terá que refazer a floresta.

 

(Publicado originalmente no jornal cachoeirense "Correio do Sul" de 22-07-1930 - Rubem, o maior cronista brasileiro, tinha, quando escreveu esta crônica, 17 anos de idade. Essa edição do Correio do Sul só está preservada, com a crônica salva para a posteridade, graças UNICAMENTE a Paulo Henrique Thiengo, que também conserva a impressora do jornal).


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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