Quatro anos após acidente, Laís Souza voa no céu do Espírito Santo - Jornal Fato
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Quatro anos após acidente, Laís Souza voa no céu do Espírito Santo


(Fotos: Roberto Pratti/ TV Gazeta)

Voar. Existe algo mais libertador? Para Laís Souza, andar já seria o suficiente. Depois do acidente que a deixou tetraplégica, em 2014, quando treinava para as olimpíadas de inverno de Sochi, a atleta começou uma luta incessante para voltar a caminhar.

 

"Larguei a ginástica porque eu já estava meio cansada. 21 (anos) de ginástica, muitas lesões, 17 cirurgias no corpo todo. Minha carreira foi longa, difícil, mas foi legal. A transição para outro esporte foi tudo junto. Desespero, porque o atleta acaba carreira, remuneração, e o meu dom era treinar. Aconteceu o convite para o esqui", comentou Laís.

 

Três anos se passaram. Foram três anos de tratamento, de muita batalha e o sonho continua! Mas alguém pode pensar: "essa menina não tira férias?". Tira! Mas só se for pra voar.

 

Laís foi convidada a visitar um lugar único: as montanhas de Alfredo Chaves, a 80 quilômetros de Vitória, capital do Espírito Santo. O local é um paraíso para os praticantes de voo livre. E o convite veio acompanhado de um desafio: um voo de parapente.

 

A ideia foi do piloto Rodolpho Cavalini. "Nunca tive o sonho de voar. Eu já tinha visto antes, mas eu não tinha ideia de que eu poderia fazer. Mesmo assim, na cadeira, eu não sabia. Ainda estou bem ansiosa, acho que vamos conseguir ficar numa situação legal para que eu fique bem com o corpo juntinho", disse Laís.

 

Começou então um intenso treinamento. Porque para Laís, decolar não seria uma tarefa fácil. Foram dias de testes.

 

Os braços e as pernas precisam estar bem protegidos e Laís, confortável durante o voo. E ela se divertiu desde o início.

 

Em pouco tempo, o equipamento virou um balanço para o jeito leve e alegre da Laís. "Começa a dar um nervoso. Estou pensando em como vai ser lá em cima", comenta.

 

Enfim, chegou a hora de parar de pensar e partir para o desafio. Essa é a primeira vez de Laís em uma rampa de voo livre.

 

Estamos há 460 metros de altura. Do alto é possível ver boa parte do litoral capixaba e, pelo menos, outros nove municípios. E como é chegar assim tão perto de um cenário assim? "Lindo, lindo!", exclama Laís.

 

Antes do voo, ela contempla a paisagem. Repara em um gavião, que paira no ar e viaja com olhar pelo horizonte. "Eu quero ir lá naquela praia", diz com olhar no infinito.

 

Chega o grande momento. Laís é preparada. "Estou na espera. Um pouco ansiosa pelo que eu vou ver. Só roí todas as unhas dos pés e das mãos", comenta Laís (risadas).

 

"Estou confortável, 'capacetão', equipamento, bora". Para decolar, Laís precisa da ajuda de dois pilotos. Dassa Cardoso e Ricardo Ramos posicionam as pernas dela e, em alguns passos, Laís começa a voar. "Obrigado, Senhor! Obrigado, Laís! Espetacular!", diz o piloto Rodolpho Cavalini.

 

Em seguida, decolamos para acompanhar mais de perto o voo da Laís. Em pouco tempo, já podemos escutar o que ela diz."Tá top, tá top, muito louco, muito louco", diz.

 

Depois de 48 minutos de voo e de manobras, chega a hora de pousar. Uma aterrissagem segura, sem nenhum impacto. O piloto Rodolpho, emocionado, beija o capacete da Laís. "Tô muito emocionado, como se fosse a primeira vez", comenta.

 

E Laís já avisa. Vai ter um próximo voo. "No próximo voo, a gente vai fazer mais manobra. Eu acho que a vida é muito curta pra gente perder tempo com algumas besteiras, um problema pequeno e você faz uma bola de neve, eu acho que tem que voltar as energias para as coisas que realmente valem à pena".

 

Nas rede sociais da Laís, está a frase do líder pelos direitos dos negros, Martin Luther King. "Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje. Mas continue em frente, de qualquer jeito". A Laís está fazendo isso. E ela está voando!

 

Fonte: G1

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