Um ano sem Roney Moraes - Jornal Fato
Especial

Um ano sem Roney Moraes

Com carreira eclética, transitou pelo jornalismo e a psicanálise - sua morte comoveu Cachoeiro


Dayane Hemerly

 

Há exatamente um ano, Cachoeiro de Itapemirim se despedia do jornalista Roney Argeu Moraes. Morreu aos 40 anos, vítima de infarto. A fatalidade causou comoção na cidade.

Roney chegava a sua casa de sua aula de judô, em uma sexta-feira, quando sentiu-se mal. Ele chegou a ser socorrido pelos familiares, mas morreu após dar entrada no Hospital Evangélico.

"Encontrei com ele pouco antes de sua morte. Ele entrava para seu treinamento e eu buscava minha filha no Judô Clube. Só nos encontramos porque me atrasei um pouco e ele, se adiantou. Tudo conspirou para este encontro. Conversamos rapidamente. Nos despedimos com um abraço. Só não imaginava que seria pela última vez", conta Wagner Santos, diretor do Espírito Santo de FATO.

Com uma carreira eclética, Roney iniciou-se no jornalismo em 1998.Trabalhou em diversos veículos. Foi um dos fundadores do Espírito Santo de FATO, com o qual sempre colaborou.

Roney, ocupava desde 2012, a cadeira número 40 da Academia Cachoeirense de Letras (ACL). Em março de 2017, foi eleito presidente da ACL. Entretanto, morreu antes da posse, que estava programada para maio.

Roney encontrou na psicanálise sua segunda paixão profissional. Foi presidente e membro da Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees) e do Sindpes e coordenador do Centro Reviver de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas (Crepad).

 

Amigos relembram momentos

Roney era um homem de muitos amigos e jamais foi esquecido por eles. Aqueles ainda mais chegados, contaram sua convivência e lembraram-se de bons momentos.

"Conheci Roney na época de faculdade. Daí em diante,mantivemos contato, porque ele trabalhava na imprensa e, em vários trabalhos que tive, precisava manter contato com jornalistas. Tivemos ótimas conversas nos bares da vida, concordando, discordando, mas sempre com o carinho e amizade acima de tudo. Ele estava muito animado com os projetos dele no campo da psicanálise e com a função que estava exercendo na Academia Cachoeirense de Letras", conta o amigo e professor, Marco Aurélio Borges.

Ele conta que pouco antes de seu falecimento, se encontraram no Café e Restaurante Mourad's e marcaram uma conversa em seu consultório, para falarem sobre projetos que poderiam fazer juntos. No entanto, o encontro não aconteceu. Roney faleceu antes.

"Ele partiu, meio sem avisar. Foi uma grande perda para a família, para os amigos e também para a cidade. Ele sempre foi muito ativo e presente na política, na cultura e na imprensa. Sinto falta dos nossos debates e das nossas discordâncias.

A amiga Marilene Depes diz que esta foi e é uma perda lastimável, e que fala em nome da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), da qual ele foi presidente. "Tinha inúmeras ideias a fim de promover a Academia. Ele era muito bom em tudo que fazia, e era acima de tudo um amigo do coração", menciona.

"As perdas nos ensinam a valorizar os ganhos que passam despercebidos ou são minimizados. Até hoje, diante de algumas situações, penso nele. 'Roney se posicionaria com muita firmeza diante disso', imagino. Esse ano fiz algo que jamais faria em homenagem a ele. Desde 2013, e também pouco antes de morrer, falou que gostaria que me candidatasse a uma vaga na Academia Cachoeirense de Letras. Ele mereceu esse carinho e estará sempre em minhas melhores lembranças", relata a jornalista Anete Lacerda.

O amigo Almir Forte diz que Roney Moraes não partiu e que fez, apenas, uma viagem sem compromisso de volta. "Os amigos sentirão sempre sua presença, seja em uma reunião partidária, em uma conversa no bar, um encontro com a família ou lendo no jornal um artigo sobre política, futebol ou psicanálise. Roney, o eterno imortal cachoeirense, que partiu para um reencontro com as estrelas que brilham no horizonte espalhando a poeira que faz nascer novas vidas...".

O diretor do jornal Fato e jornalista, Wagner Santos, mencionou que Roney era um amigo como poucos. "Nos conhecíamos há 20 anos. Trabalhamos juntos, frequentávamos um a casa do outro nos melhores e nos piores momentos. Tudo que disser sobre suas múltiplas qualidades como jornalista, psicanalista e cronista será apenas repetir o que outros e eu mesmo já dissemos antes. Era intenso em tudo o que fazia e nos faz falta na mesma intensidade".

Paulinha Garruth, grande amiga do jornalista, conta com carinho que Roney foi um amigo de infância que permaneceu durante a vida. Sua mãe foi professora dela na educação básica e isso foi o que os uniu.

"Depois veio a literatura, que nos aproximou mais, e há cinco anos, pelas mãos dele, publiquei meu primeiro texto no Fato. Além disso, éramos militantes políticos do mesmo lado. Implicante, quem não nos conhecia achava que nossas brigas virtuais eram reais, mas nunca passaram de uma grande brincadeira. Roney escritor, jornalista e agitador cultural faz muita falta. Mas o amigo sempre disponível que aparecia nas horas mais oportunas para um café e um dedo de prosa faz muito mais", desabafa.

Regina Monteiro, amiga de Roney de longas datas, recorda que foi ela quem avisou às pessoas sobre seu falecimento.

"Nunca vou esquecer aquela noite do dia 28 de abril de 2017...

Fui uma das primeiras pessoas a receber a notícia de que Roney Moraes havia partido, e tive a difícil missão de informar aos amigos jornalistas e escritores. Foi uma dor tão grande que até hoje lateja na alma. Será sempre uma ferida aberta, que vez ou outra volta a sangrar...

Roney marcou a vida de todos que o conheciam. Sua alegria, entusiasmo pela vida, comprometimento com as causas sociais, e fidelidade aos amigos era a sua marca. Roney era a alegria!

Não me lembro de nenhuma comemoração importante em minha casa, de nenhum momento difícil que atravessei, de nenhum debate político que travei, de nenhum show de música na Praça Jerônimo Monteiro ou no Mercado Municipal que ele não estivesse comigo, nos últimos 20 anos.

Roney era um grande amigo, conselheiro e companheiro. Por isso, sempre sentirei a sua falta. Sua ausência dói todos os dias. Mas, tenho certeza, a mais absoluta certeza, que vamos nos encontrar um dia. Até lá, me alimento das boas lembranças e da história de amizade e cumplicidade que construímos.

É impressionante como uma vida tão curta possa marcar tão intensamente as pessoas.  Ele foi inspiração para todos nós, seus amigos.

Acredito que sua lembrança e seu olhar otimista diante da vida ficarão para sempre."

 

A saudade de sempre

A mãe de Roney, CeledyrArgeu Moraes, falou à reportagem e comentou que ainda sente bastante a ausência do filho.

Ela conta que ao chegar o dia de hoje sente um "choque" de realidade e que tudo parece ser recente.

"Para mim, como mãe, não existe dor maior. Nada mais, depois de seu falecimento, me pega de surpresa e, por maior que seja a tragédia, vejo como se fosse natural. O que é grande para o outro, é pequeno para mim. Entende?", questiona a mãe do jornalista.

Celedyr relata que enxerga o filho em tudo o que faz, porque ele foi muito presente em sua vida, cotidianamente. Ela relata que participou de toda a sua trajetória e esteve presente nos momentos ruins e bons da vida dele.

"Ele, além de filho, que é um elo natural, era companheiro. Podia contar com ele nos meus momentos de decisão, de conselho na família, por ser o filho mais velho. Era meu braço direito.

"Senti-me perdida após sua partida, e ainda é difícil equilibrar esse sentimento de tristeza. O meu conforto é saber que ele deixou um grande legado e muitos bons amigos", finaliza.

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