Especial Emancipação: Cachoeiro antigo e em cores - Jornal Fato
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Especial Emancipação: Cachoeiro antigo e em cores

Preservados, imóveis centenários ou quase proporcionam passeio pela história da principal cidade sul capixaba, que completa 157 anos de emancipação política


- Foto: Nivaldo Pacchiella

A beleza do Cachoeiro antigo e em cores... fachadas requintadas, construções que expressam a arquitetura do fim do século XIX e primeiras décadas do século XX. É o que pode ser apreciado no coração da cidade, que completa 157 anos de emancipação política.

Às margens do rio, a vila, denominada freguesia de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim surgiu por conta do garimpo. E, com a expansão cafeeira, viria a se consolidar como a cidade mais importante do sul do Espírito Santo. 

De acordo com os registros históricos, em 1846 foram erguidas as primeiras casas na região que, desmembrando-se de Itapemirim, tornar-se-ia o município de Cachoeiro de Itapemirim cerca de 21 anos depois, em 25 de março de 1867.

A cidade começou no ponto que depois ficaria conhecido como o bairro Baiminas, onde havia porto, no último trecho navegável do Rio Itapemirim, que recebia toda a produção de café sulina e permitia a ligação com a Vila de Itapemirim e o Oceano Atlântico, na Barra do Itapemirim.     

Nomeada com a data da emancipação política, 25 de Março, a emblemática rua no coração de Cachoeiro proporciona um verdadeiro passeio pela história da cidade. 

Concentra casarios centenários e outras edificações que se aproximam desse tempo de existência. A maioria guarda relação direta com a história e cultura do município.

No trecho, que antigamente servia aos tropeiros e mascates, há um verdadeiro corredor cultural e histórico.

 

CORREDOR CULTURAL

Na 25 de Março estão nada menos do que a Casa dos Braga, o Centro Operário e de Proteção Mútua, a Casa do Estudante, a Loja Maçônica Fraternidade e Luz, a Casa da Memória, entre outras edificações de interesse histórico e arquitetônico.

Mas há outras ruas nas proximidades, principalmente na região central do município, que também abrigam edificações que representam nitidamente o Cachoeiro antigo.

O centro histórico da cidade coincide com o centro atual e adjacências, onde se destaca o Palácio Bernardino Monteiro (que passa por reforma), bem como dezenas de casas centenárias ou quase, nas ruas Costa Pereira, Barão de Itapemirim, Coronel Guardia, Dr. Raulino de Oliveira, Avenida Pinheiro Júnior, ruas Moreira, Dom Fernando, Bernardo Horta, João de Deus Madureira e Ilha da Luz, por exemplo. 

Nesse espaço territorial está boa parte dos imóveis oficialmente históricos da cidade, além de outros que merecem tombamento, observa o cronista Higner Mansur. 

No Plano Diretor Municipal, eis alguns dos listados como patrimônios de interesse: Casa dos Vivacqua (Luz Del Fuego) - foto de capa, Centro de Saúde Bolívar de Abreu, casa da Família Tanure, prédio Gil Moreira, casa da Família Herkenhoff, prédio do Pepe, casa dos Goulart, prédio do INSS, casa dos Novaes, prédio da Rádio Cachoeiro, Colégio Liceu Muniz Freire, antigos prédios da Santa Casa de Misericórdia e da escola Cristo Rei. 

 

TOMBADOS

Já entre os patrimônios históricos tombados estão: Mercado Municipal "Quincas Leão" (Mercado da Pedra), antiga estação ferroviária, Sociedade Musical 26 de Julho, Caçadores Carnavalesco Clube, Colégio Bernardino Monteiro, Sociedade Musical "Lira de Ouro", Mercado Municipal "São João", Casa dos Braga, Centro Operário e de Proteção Mútua, Casa da Memória, Loja Maçônica "Fraternidade e Luz", Casa de Cultura "Roberto Carlos", Ponte de Ferro "Demistóteles Baptista", Conservatório de Música, Ponte do Arco "Francisco Athayde", Igreja "Nosso Senhor dos Passos" (Matriz Velha), Fábrica de Pios de Caça "Maurílio Coelho", Catedral de São Pedro.

O tombamento, de acordo com especialistas, é um ato de reconhecimento do valor cultural de determinado bem e que garante a sua proteção.

Além de conservar vivos os edifícios, deve-se trabalhar para manter vibrantes os seus entornos e integrá-los de maneira inteligente e eficiente à operação e ao funcionamento das cidades, orientam como solução para perpetuar nosso patrimônio histórico e paisagístico.

Para Lucimar Costa, do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim, a importância da preservação de imóveis antigos de uma cidade é a própria preservação de sua história.

"É através destes imóveis que se conta o crescimento, o desenvolvimento, as riquezas, os costumes e a vida de uma comunidade, de um povo e de uma cidade. As pessoas precisam de se reconhecer dentro do lugar em que vivem, precisam desta memória para se orgulhar de sua origem".

Os imóveis antigos de Cachoeiro, avalia Costa, "trazem tudo isso, fortalecem o sentimento de pertencimento do cachoeirense assim como contam parte de sua história para os visitantes e turistas que passam pela cidade".

 

INVESTIMENTO

Por conta do seu expressivo conjunto de edificações tombadas que guardam a história e a identidade cultural local, Cachoeiro teve nove projetos aprovados no Programa de Coinvestimento da Cultura - Fundo a Fundo Patrimônio Material Tombado Ciclo 2023, do Governo do Espírito Santo.

A Secretaria de Estado de Cultura (Secult), agora, vai analisar as adequações observadas com pareceres técnicos, para aprovar o repasse de recursos.

Trata-se de R$ 1,5 milhão para investimento em edifícios históricos, como Casa dos Braga, Casa do Artesão, Museu Ferroviário Domingos Lage, Casa de Cultura Roberto Carlos e Casa da Memória, além de pontos da Praça Jerônimo Monteiro.

A cidade conquistou o maior número de propostas aceitas em projetos destinados à preservação, conservação e restauração do patrimônio material tombado. 

A expectativa é de investimento na cultura, preservação da memória, com a manutenção de construções que marcaram a história.

 

RUÍNAS

Em meio ao patrimônio preservado, há imóveis históricos abandonados, alguns já em ruínas, infelizmente.

 

 

Um dos que mais chama a atenção é o centenário casarão ao lado da Ponte Carim Tanure, na Avenida Pinheiro Júnior.

Imponente construção erguida no fim do século XIX pelo imigrante francês de origem judaica Samuel Levy, o projeto é de autoria de um arquiteto italiano chamado Attilano Lambrano, segundo o pesquisador Nivaldo Pacchiella dos Santos Andrade.

"Samuel Levy pediu para que fosse feito um jardim de inverno no interior. Era a sede de uma chácara, com pomar de frutas no quintal", revela. 

Importante comerciante da região, Levy morava no Baiminas, continua o pesquisador, e queria uma casa maior. Situada em ponto estratégico, embarcações pequenas aportavam aos fundos do terreno. Já os barcos maiores, movidos a vapor, que faziam a ligação com o litoral, só navegavam até o Baiminas.

A última família que residiu no imóvel, relata Nivaldo, foi a de um requisitado contador cachoeirense. Aparentemente abandonado, o imóvel centenário há tempos sofre com a ação de vândalos.

"Os ladrilhos da varanda (portugueses ou alemães, não tenho certeza) foram roubados. E o casarão corre o risco de desaparecer. Conversando com moradores locais, fiquei sabendo que seria colocado à venda", denuncia o pesquisador.

Entusiasta da história de Cachoeiro e do sul do Espírito Santo, Nivaldo faz interessantes publicações sobre o tema em seu perfil no Facebook.

Confira: (facebook.com/resgatandoamemoriadecachoeirodeitapemirim).

 

Imóvel antigo do bairro Baiminas, onde funciona uma fábrica de sabão , permanece até hoje preservado.

 

 

 

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