A escola pública é de quem? - Jornal Fato
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A escola pública é de quem?


A escola pública no Brasil sempre está sendo avaliada, e, na maioria das vezes, a nota não é acima da média. Se comparada com a escola pública de antigamente então... Vem aquela nostalgia acompanhada de frases como: "Na minha época, não era assim..." Até o radicalismo do passado é exaltado. É claro que a escola pública de hoje avançou em muitos aspectos: espaços, tecnologia, interação professor-aluno. Mas o que falta? Por que os resultados não são os esperados?

A democratização da escola pública, que aconteceu ao final do século XX, influenciou a qualidade dessa escola. Não porque os pobres entraram, mas porque entraram e pouco foi feito para que a escola os acolhesse, para que o método de ensino se adequasse, para que houvesse estratégias diferenciadas de ensino. Dessa forma, é inegável a negligência do governo na educação dos pobres.

Mais fácil do que se adequar às mudanças, estudando, reformulando o currículo, foi "quedar" o ensino, barateá-lo, daí a fama de "fraca" da escola pública.

Mas é um ledo engano pensar que antes dessa democratização a escola era realmente de qualidade. Ora, de 100 crianças que cursavam a primeira série, apenas 50 (em média) conseguiam concluí-la. Terminar a quarta série era algo a se gabar. Atualmente, alunos concluem até o Ensino Médio, muitos ingressam no Ensino Superior com a ajuda de bolsas e programas, para se tentar reparar um erro histórico.

Diante dessa realidade, até a palavra educação foi perdendo o sentido. Temos de ouvir, naturalmente, a expressão "educação pública de qualidade". Mas educação já não deveria ser de qualidade? Se é necessário afirmar que tem qualidade é porque alguém praticou (ou pratica) uma educação ruim e isso foi aceito como educação. Agora já sabemos quando isso começou. Mas como superar essa cruel história?

Com certeza, falar mal da escola pública ou compará-la a instituições particulares não é o caminho, além de ser um desserviço. Até porque as avaliações nacionais de qualidade de ensino mostram escolas públicas e particulares tanto no topo como no final da lista.

É necessário diagnosticar os problemas e buscar possíveis soluções, já que não é apenas para honrar o nome da escola pública, mas dar aos meninos que dependem dela talvez a única oportunidade de ascensão cultural e, por que não dizer, econômica? Oportunidade de ler e interpretar o mundo.

Pedro Demo, professor e pesquisador na área de política social, afirma, sabiamente, que o Estado não teme o pobre com fome, mas o pobre que sabe pensar. Então, há que se cuidar da educação pública em todas as esferas para que os meninos pensem principalmente em como transformar suas vidas, comunidades, cidades... País. E esse cuidado com a educação envolve muita gente.

Temos, nesta cidade, cursos de formação de professores que já não abrem turma há mais de dois semestres. Quem quer ser professor em um país que não tem a educação como prioridade real, mas só de campanha de governo? Já dizia Paulo Freire: "Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda."

Estamos agonizando por mudanças na educação pública. Portanto, na sociedade, porque a escola é um retrato dela. E isso é compromisso de todos - dos profissionais da educação, que precisam, quase sempre, buscar melhores condições de trabalho e valorização; dos pais de alunos que, muitas vezes, não conhecem a escola, cobram o que não deveriam e se esquecem do fundamental: aprendizagem; e do governo, que se comprometeu com a população mas, na maioria das vezes, os políticos estão mais preocupados em trocar favores entre si para conseguirem apoio político ("Eu consigo um cargo para alguém do seu interesse e você vota aprovando o meu projeto") ou ainda extinguem um projeto que deu tão certo em uma gestão apenas por questões políticas, para não admitir que a outra gestão fez um bom trabalho.

Talvez se todos tivessem seus filhos em escolas públicas não teríamos de clamar pela qualidade dessa instituição tão poderosa.

Fica aqui o apelo: o que é público é nosso! Todos temos o dever de cuidar, fiscalizar, cobrar mudanças, denunciar...  Exercer nosso papel de cidadão!

 

Adriana Pereira Souza

Professora, especialista em Psicopedagogia e Atendimento Educacional Especializado

           


Dayane Hemerly Repórter Jornal Fato

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