Charles Fricks apresenta premiado monólogo - Jornal Fato
Cultura

Charles Fricks apresenta premiado monólogo

Adaptada do livro "O Filho Eterno", do escritor Cristovão Tezza, a peça é estrelada pelo artista cachoeirense de renome nacional


Em entrevista, ele fala da expectativa de se apresentar em Cachoeiro - Foto: Lidia Ueta

Uma das atrações confirmadas para o VII Festival de Artes Cênicas de Cachoeiro (Facci), que acontece a partir do próximo dia 23, é o premiado monólogo "O Filho Eterno", da Companhia Atores de Laura, do Rio de Janeiro, considerada uma das mais importantes do país. O espetáculo - que tem classificação 12 anos - está marcado para 28 de outubro, às 19h30, no Teatro Municipal Rubem Braga, com entrada franca.

Adaptada do livro "O Filho Eterno", do escritor Cristovão Tezza, a peça é estrelada por um artista capixaba de renome nacional, o ator cachoeirense Charles Fricks. Sob a direção de Daniel Herz, ele interpreta a luta diária de um homem que precisa lidar com o desafio da paternidade, ao descobrir no nascimento de seu primeiro filho que ele tem Síndrome de Down.

Fricks já apresentou a adaptação (assinada por Bruno Lara Resende) em mais de 50 cidades brasileiras - em todas as capitais, praticamente, com a exceção de Macapá, no Amapá - e, também, no exterior. O espetáculo ganhou prêmios como o Shell (melhor ator e categoria especial - direção de movimento), APTR (melhor ator) e Orilaxé (Daniel Herz - categoria teatro), além de ter tido seis indicações a outros prêmios teatrais.

Na entrevista a seguir, o ator fala da expectativa de se apresentar em sua terra natal, destaca a importância das adaptações literárias para os palcos e, ainda, pontua os benefícios que a realização de um evento voltado para o teatro traz para a população cachoeirense. Confira:

 

Depois de ter percorrido mais de 50 cidades brasileiras e o exterior, "O Filho Eterno" enfim chega à terra natal do ator que o interpreta. Ele que, não bastasse ter obtido premiações nacionais por tal performance, ainda conseguiu a proeza de arrancar sete minutos de aplausos, segundo a imprensa, após apresentar-se em Portugal. Com o perdão do clichê da pergunta a seguir, Fricks, mas o que representa para você, depois de tudo isso, encenar o aclamado monólogo em Cachoeiro?

Uma vez li algum autor que dizia algo como: "Você pode percorrer o mundo com seu trabalho, mas se não for reconhecido, de alguma forma, na sua vida, parece estar faltando algo". A sensação é um pouco essa. Cheguei no Rio de Janeiro em 1991 e, desde então, nunca consegui me apresentar em Cachoeiro. Alguns anos atrás tentei, mas não consegui. Se apresentar dependendo apenas de bilheteria é muito arriscado para quem não é "famoso", sobretudo para um espetáculo que não é uma comédia. Mesmo em uma produção pequena, um monólogo. Temos gastos de transporte, translado, equipe de quatro pessoas, hospedagem, montagem do espetáculo, alimentação, cachê para todos, para a direção, para o autor do livro, para o adaptador da peça, impostos, etc. Apresentei "O Filho Eterno" em quase todas as capitais do Brasil - só falta Macapá (Amapá) -, em Lisboa (Portugal) e em Vitória, graças ao projeto Palco Giratório do Sesc. Finalmente, graças ao Edital da prefeitura de Cachoeiro, vou conseguir fechar essa lacuna na minha carreira. Meu muito obrigado ao edital e à prefeitura.

 

Para você, Charles, quais ganhos os espectadores têm ao assistir a uma peça teatral adaptada de uma obra literária, seja "O Filho Eterno" ou qualquer outra com o mesmo perfil?

Quem puder assistir a "O Filho Eterno", no próximo dia 28, vai ter a oportunidade e o privilégio de ter contato com uma das grandes obras literárias brasileiras da atualidade. Quando o romance "O Filho Eterno" foi lançado por Cristovão Tezza em 2007, a obra ganhou todos os prêmios literários à época. Alguns na França e Inglaterra, por exemplo. Sabemos que o brasileiro lê muito pouco. Quem assistir à peça, e gostar da história, poderá despertar curiosidade e procurar o livro para ler. Quem sabe isso abrirá a porteira do desejo de leitura no espectador? Uma peça que leva a um outro livro do Tezza, a um Machado, a um Jorge Amado... Quem sabe? Além da possibilidade de leitura, o espectador assistirá a uma linda e forte história sobre relacionamento humano. A história de um pai que tem dificuldade em amar o seu filho pelo que ele é. Simplesmente, por ele ser o que é. Uma história sobre amor e (in)tolerância. Sobre aprender a amar quem é diferente de mim, de você. Bem atual, não!?

 

Quais benefícios uma cidade do porte de Cachoeiro pode obter, a curto, médio e longo prazo, com a realização periódica de um festival especificamente voltado para as artes cênicas?

Quando li que a prefeitura estava abrindo um edital para a realização de um festival de teatro, fiquei muito feliz e emocionado. Mesmo que meu espetáculo não fosse selecionado, sentia uma esperança de que a cultura e a educação na cidade podem estar sendo valorizadas. Que havia alguém que entende que "um país se faz com homens e livros", como dizia Monteiro Lobato. A curto prazo, um festival de teatro traz para a população de uma cidade a oportunidade de ter contato com obras e artistas do mundo, do país e do nosso estado. A oportunidade de darmos espaço aos artistas da terra de ocuparem os espaços cênicos. E da população participar de forma efetiva indo aos teatros, a lançamento de livros de autores capixabas, vernissages, exposições, etc. Um festival de teatro é uma oportunidade de intercâmbio entre artistas e a população de uma cidade. Teatro, além de entretenimento, é um ambiente para a discussão de ideias, troca de opiniões, questionamentos e alimento para a alma. Para quem acha isso pouco e só vê valor no "vil metal que move o mundo", um festival pode trazer muito dinheiro para o turismo de uma cidade - para hotéis, restaurantes, lojas e comércio em geral, para citar alguns. Se a cidade conseguir manter um festival como esse por vários anos, poderá ser referência cultural no Sul do Espírito Santo e trazer benefícios como uma excelente imagem, turistas e, consequentemente, investimentos.

 

Outras atrações do VII Festival de Artes Cênicas

Organizado pela prefeitura de Cachoeiro, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult), o VII Festival de Artes Cênicas de Cachoeiro acontecerá de 23 a 28 de outubro. Antes, nos dias 21 e 22, haverá uma programação paralela. Todas as atrações terão entrada franca.

No total, além do monólogo "O Filho Eterno", serão mais de 20 espetáculos teatrais e de dança, em locais fechados e a céu aberto, além de oficinas (nos dias 25, 26 e 27). As atividades serão promovidas no Teatro Rubem Braga e, ainda, na praça Jerônimo Monteiro, na Praça de Fátima, no Centro Cultural Nelson Sylvan e na Associação Teatral de Cachoeiro (Asteca).

Os artistas e grupos que estarão presentes são do Espírito Santo (de Cachoeiro, Vitória, Serra e Guaçuí) e de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná. O evento terá, ainda, uma atração internacional: uma companhia de Buenos Aires, capital da Argentina.

O VII Festival de Artes Cênicas de Cachoeiro de Itapemirim (Facci) tem apoio da Unimed Sul Capixaba e da Loja Maçônica Fraternidade e Luz.

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