Casa de força do Rei Ayrá - Jornal Fato
Cultura

Casa de força do Rei Ayrá

Barracão do patriarca Amarildo, no Novo Parque, é um ?pedaço da África?, em Cachoeiro


 

 

 

Pai Amarildo, sacerdote candomblecista, conta sobre a sua "casa" e os trinta anos de iniciação 


O líder religioso Amarildo Costa, o pai Amarildo, do Ilè Asé Obá Ayrá, fundado em 08 de agosto de 1986, que abriga um grande numero de adeptos da religião africana no Espírito Santo, recebeu a reportagem do Espírito Santo de FATO para falar sobre o 'Barracão do Pai Amarildo', onde cada espaço da casa é "um pedacinho da África", como ele bem denomina. O carisma e a opção religiosa ele herdou da mãe Lindalva e segue os seus passos levando adiante a cultura e a crença.

O religioso conta que foi iniciado no Candomblé em Xerém, Baixada Fluminense, Estado do Rio de Janeiro. E há 30 anos, no Asé localizado no bairro Alto Novo Parque, em Cachoeiro, abriga mais de mil filhos de santo, incluindo Yaôs, Egbomis, Ogâns e Ekedis.

"Tenho filhos e filhas de santo em Portugal, Espanha e Itália, além de vários Estados brasileiros", revela.

Uma coisa que o incomoda, e muito, é o preconceito que ainda existe, mas que, aos poucos, com a união das demais lideranças religiosas, vai sendo vencido. "A intolerância, infelizmente, é inerente ao ser humano, que por desconhecimento de algo determinado prefere a crítica e se torna refratário. Uma pena, mas vamos reverter isso", acredita.

O patriarca Amarildo explica que na sua religião não existe a verdade absoluta e que as pessoas procuraram por sua Casa devido à necessidade, seja ela qual for. "Aqui não temos qualquer distinção com a questão social, opção sexual ou outro qualquer modelo pré-estabelecido pela sociedade", esclarece.

Nas três décadas dedicadas ao candomblé, o babalorixá viveu inúmeros casos que deixaram marcas, entre eles, o do ritual de iniciação de uma menina de dois anos e sete meses que, por causa da influência da família do pai da criança, teve intervenção da polícia, mas tudo foi resolvido. "É um dos fatos que nos coloca diante da ignorância de uma causa, mas é nossa missão", afirma.

O Barracão do Pai Amarildo vive de 'doações de amigos' e pratica a bondade revertendo para os mais necessitados, como a entrega de cestas básicas, campanha do quilo, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Semdes), e campanha dos remédios. O candomblé, que cultua a natureza (água, terra, fogo e ar), com a força dos orixás, tem Olorum (Deus), a divindade maior.

"Ainda é pouco o incentivo que recebemos, mas o nosso amor pelo próximo é o porto seguro para vencermos nossas batalhas diárias", pontua.

Com sessões às segundas, terças e quintas, o Ilè Asé Obá Ayrá recebe quem precisa de apoio espiritual. "A minha casa é um santuário onde as pessoas encontram o conforto em qualquer situação, além de muito amor".

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