Há mais de 20 anos não sentia essa provocação. Mas hoje ela veio sorrateira, latejante, necessária, vital. Confesso que ao chegar em casa, minto, ainda no caminho sentia uma inquietação seguida de uma única certeza: a ficha ainda não caiu. E fico imaginando. Como será a chegada em casa, nesta tarde de domingo, com um tempo pra lá de feio... Deixa pra lá! O tempo vai responder. Assim ia construindo um monólogo solitário entre Vitória e Cachoeiro. Não queria que Celso percebesse a minha preocupação para não reforçar a que ele certamente também sentia.

 

Num esforço ora razoável, ora palpitante de mandar os pensamentos embora, a distância ia encurtando, e quando me dei conta, já estávamos na rodovia do Frade. Caramba, está perto!

 

Ao chegar em casa, o som do alarme do portão anuncia que já é hora! Hora de entrar em casa e presenciar na carne o vazio da sua ausência. Por um momento tento me acalentar, reforçando: serão apenas duas semanas. E como será que ela se sente quando é você quem parte?

 

Dou um jeito de acender a vela para Santa Rita na certeza de apaziguar o coração agitado desta mãe. Dito e feito! Vela acesa, pronta para encarar a cozinha, passar um café forte e ficar, é claro, de olho a cada segundo no celular. Impaciente, a chamo: "Oi", e ela me responde imediatamente: "Oi mãe". Graças a Deus! E assim, seguimos naquela nublada tarde de domingo, sentindo uma sensação de satisfação com ansiedade. A cada momento, cada gesto, uma espiada no celular para a mais importante tarefa deste domingo: receber informações dela.

 

Tento uma distração na cozinha novamente acompanhada por uma taça de vinho, mas parece que hoje o organismo está mais resistente e não será uma taça que me fará sentir aquele típico sono. Tudo bem!

 

Agora, pedi a Deus mais uma vez que a proteja no voo até o seu destino.  E que esses dias passem ligeiro, mais que isso, que a felicidade dela seja plena.  Acabamos de nos certificar. O voo 950 já partiu! Em voo!  Mais uma vez, dou graças a Deus e peço a Ele proteção!