Tinha uma pedra - Jornal Fato
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Tinha uma pedra


Carlos Drummond de Andrade nos deixou um poema que diz: "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho /...."Unido a ele, que relata existência de obstáculos na vida, portanto, fala das dificuldades, das dores enfrentadas, a literatura de todos os tempos está repleta de poetas que, a sua maneira, revelam diferentes visões sobre a dor. Isso é óbvio, este sentimento é inerente a todo ser humano. Se a arte reflete a essência humana, inevitável, a presença da dor nela.

 

Não só a literatura trata desse tema, inúmeras ciências, religiões e, até mesmo, estudos empíricos se ousam a tentar entender os conflitos humanos.

 

Contudo, sobre esse tema, dias esses ouvi uma mensagem do Padre Fábio de Melo na qual destacou que, não raro, ficamos nós mesmos no meio do caminho e não a pedra. Assim, diferente do Drummond, o Padre, que também traz em si muita sabedoria e poesia, me fez refletir sobre fatos e situações que tendem a nos causar a sensação de que não conseguiremos sair do lugar.

 

Com isso surgiram lembranças de algumas topadas que, dadas enquanto trilhamos nossos caminhos, nos ferem e machucam quem amamos.  Mas, nem sempre o problema está nas pedras que encontramos, mas em nós mesmos.

 

Deste modo, por vezes, estagnados, nos tornamos alvos fáceis para que nossas mentes se voltem às dores e nossos olhares se foquem em nossas limitações, o que nos acomoda na condição em que nos encontramos e nos cega para a realidade de que podemos ir muito além da situação presente.

 

A literatura revela a nudez da alma, logo, ao poetizar sobre o caminho e a pedra, o poeta nos aponta as dificuldades que, por vezes, enfrentamos. Mas o Fábio de Melo, em seu discurso, trata do desafio de se tornar a cada dia melhor, da grandiosidade que há quando superamos nossos defeitos e nossas tendências destrutivas, o que ameniza a dor decorrente das topadas nas pedras eventualmente encontradas pelo caminho. Isso porque ninguém é perfeito e não há um ser humano que seja isento de errar. Não há quem, por vezes, não fique à beira do caminho esperando que os sonhos caiam do céu e que a providência acomodada nos alcance.

 

Diante desses dois paradigmas, para mim, literários, penso que as pedras com as quais topamos são bem menos desafiadoras que o dever de auto superação diária. Isso é óbvio, a pedra podemos tirar, mas, conseguir dominar os próprios instintos e conseguir sair do lugar do comodismo por meio de um processo de construção pessoal constante, não é para qualquer pessoa. Somente os fortes, determinados e humildes, que sabem reconhecer-se limitados, terão a chance de conseguir.

 

Assim, mais que as pedras que nos ferem, que possamos ter a capacidade de, em um processo de superação comportamental diário, aprender a rever nossas tendências e amenizar a cada dia as dores que, por vezes, causamos em nós e também naqueles que amamos.

 

 


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