RUA BERNARDO HORTA                 - Jornal Fato
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RUA BERNARDO HORTA                


Eu não me considero uma pessoa velha, mas confesso que acho que terei que rever este conceito brevemente. Digo isso porque, dias atrás, eu estava conversando com alguns colegas de trabalho, por sinal bem mais jovens que eu, sobre como era Cachoeiro nos anos 1980-1990. Foi quando percebi o modo como eles ouviam atentamente o que eu dizia; e eu me vi no lugar deles, fazendo o mesmo quando meus tios me contavam histórias sobre Cachoeiro ou Alegre de meados do século passado.

 

Lembrei-me então, creio que devido aos laços afetivos que tenho, de como era a Rua Bernardo Horta, no Guandu, aqui em Cachoeiro. Sei que ela se inicia lá perto da Ilha da Luz, mas a recordação mais forte que tenho é de um trecho bem mais curto. Esse vai ali da esquina com a Rua Senador Mesquita - aquela que sobe o Morro Santo Antônio - até perto da antiga estação ferroviária. Nessa extensão o comércio passou por alterações profundas, eu diria até radicais, nesses últimos trinta, quarenta anos.

 

Lembro que na época a predominância na região era de lojas de material pesado, como se dizia. Casas que vendiam ferramentas, parafusos, tintas, acessórios e peças automotivas e ferragens em geral dividiam o espaço com alguns bares e botecos. Do lado esquerdo da rua ainda havia a antiga Fábrica de Tecidos de Cachoeiro de Itapemirim (TECISA), que ocupava uma área muito extensa. Tão extensa que no lugar dela hoje estão o Supermercado Casagrande, diversas lojas e o Teatro Rubem Braga, com um amplo estacionamento ao seu lado. Além disso parte do seu terreno deu lugar à Rua Delvo Arlindo Perim, que liga a Av. Beira Rio à Bernardo Horta, com um terreno vazio à sua direita, com alguma obra mal iniciada e já paralisada.

 

No final dos anos 1970 havia até mesmo uma revenda de tratores, na esquina onde hoje é uma loja da Hot Paradise. Era de uma marca japonesa, acho que o nome era Hatsuta. Mais à frente, ainda do lado direito da rua, antes do Mercado da Pedra, ficava a sede da Telefônica de Cachoeiro de Itapemirim S.A. (TECISA, olhem a coincidência), onde hoje funciona uma padaria, se não me engano.

 

A Bernardo Horta foi durante muito tempo o coração do comércio cachoeirense e ainda hoje desempenha papel importante na economia da cidade. Costumo dizer que ela é a nossa Vila Rubim, tanto devido ao intenso fluxo de pedestres e veículos, quanto à pujança do comércio e aos diversos tipos humanos que por ali passam.

 

Meu laço afetivo com essa rua se deve a meu pai, que foi comerciante ali durante décadas e ao seu convívio com os demais lojistas e vizinhos. Aprendi a conhecer e a respeitar todos eles, já que de vez em quando eu e meus irmãos tínhamos que trabalhar na loja, em especial em épocas de balanço. Não sou saudosista, tenho a convicção de que pensar demais no passado é uma forma de nos impedir de seguir em frente. Mas para mim é impossível passar por ali e não pensar em como essa rua mudou.

 


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