RENATO RANGEL - Jornal Fato
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RENATO RANGEL


Renato Rangel chegou, há uns 10 dias, no Café Mourads. Cedo. Verão. Quase ninguém por ali. Entabulamos conversa de reminiscências que não tivemos um com o outro, mas pelas recordações individuais de coisas e de gente de nós dois, os nossos pais.

 

Falamos, como invariavelmente falávamos das outras vezes, de meu pai Manoel Mansur e dos políticos que ele admirava: - Jefferson de Aguiar e Rubens Rangel, este o pai de Renato, que fora Deputado, Prefeito de Mimoso do Sul e Governador do Espírito Santo. Ambos, Jefferson e Rubens, foram políticos que durante certo tempo - década de 1960 - fizeram parte de minha história contada por meu pai - história política de cada um.

 

Falávamos mais de Rubens Rangel. Eu porque ouvira de meu pai palavras sobre os dois políticos que povoaram meus tempos de criança, antes de eu completar idade para votar. Já Renato - Renato Rangel - falando de Rubens Rangel, falava do próprio pai, dos políticos anos da década de 1960.

 

Nossas pouquíssimas conversas não iam além, ficavam por aí. Não me lembro de que um dia tivéssemos falado de mármore e de granito, vertente profissional de Renato.

 

Pois nesse último encontro casual, dez dias passados, o Renato, com seus 80 anos, mais ou menos, não é que estava particularmente feliz, com cara boa que transparecia o bom momento pelo qual passava naquele momento! Estava melhor do que das outras vezes, se bem que das outras vezes não estivesse pior, se é que me entendem.

 

Conversamos uns 10 minutos, mesmo assunto, política de seu pai e visão do meu, sobre Rubens e Jefferson. Daí, ele se foi. E se foi, definitivamente, agora no Carnaval. A eternidade o levou e fiquei, senão feliz - como se há de ficar? - ao menos ficou-me o semblante feliz dele que partiu.

 

E não há partida do homem justo, sem coroamento. Vejam o que escreveu o escultor do mármore Valdieri Martin, em sua página na rede social:

 

- "Recebi agora a triste notícia do falecimento do meu amigo e apoiador Sr. Renato Rangel, empresário sério do setor de rochas ornamentais. Renato foi o único empresário do ramo do mármore que teve a sensibilidade de apoiar a arte no mármore, na cidade. Sempre se colocou à disposição para que eu pudesse obter pedras de grande porte para esculpir. A todo momento se dispôs a incentivar-me, inclusive, em momento tão próprio de recordações, me lembro que um dia, estando eu ainda em São Paulo, chegou, sem que eu esperasse, um caminhão com cinco peças enormes de mármores branco puríssimo de Cachoeiro, presente de senhor Renato.

 

E mais ainda, não podemos esquecer a pedra em que foi executada a escultura "Roberto Carlos" de Angella Borelli Escultora, foi também doada pelo senhor Renato Rangel. Aos familiares e amigos, deixo meus sinceros sentimentos, pois todos perdemos com a falta que meu amigo Sr. Renato fará; mas suas boas ações seguirão fazendo seu nome ecoar".

 

Fazer o bem sem fazer "seu nome ecoar" é também minha lembrança definitiva do "carrancudo" Renato Rangel. Deus já o terá acolhido e nós levaremos com prazer a lembrança dele. Salve Renato Rangel.

 

"Palácio" Bernardino Monteiro

 

O "palácio", antigo Grupo Escolar Bernardino Monteiro, completou 105 anos de inauguração nesse dia 15 de fevereiro.

 

A foto é de folder datado de junho de 2000, quando o então Grupo Escolar foi transformado em Centro de Ciência e Arte - CENCIARTE, que precisa voltar.

 

(A reforma do prédio - ano 2000 - ficou por conta da arquiteta-urbanista Maria Luiza Andrade (MALU), que nos cedeu a foto).

 

BERNARDO HORTA

 

Bernardo Horta de Araújo, diz Newton Braga, é a maior figura de nossa História. Filho do mineiro de Cocais, Desembargador José Feliciano Horta de Araújo (que dá nome ao Fórum de Cachoeiro) e de D. Izabel de Lima, filha do Barão de Itapemirim. Nasceu em 20 de fevereiro de 1862, em Itapemirim, na Fazenda Muquy, em terras do avô barão.

 

Fundador do 1º Clube Republicano do Estado, foi Presidente da Câmara Municipal de Cachoeiro (1902/1903), cargo que equivalia ao de Prefeito (fruto de seu trabalho, em 1º de novembro de 1903 foram inaugurados a luz elétrica (na Ilha da Luz) e o prédio da Prefeitura de Cachoeiro (no local onde está, hoje, a Câmara).

 

Casou-se com D. Angelina Ayres Horta, apelidada Nininha (ela casou-se com aproximados 13 anos e morreu por volta dos 20 anos de idade). Tiveram cinco filhos: Maria Izabel, Fábio, Zilma, Lélia e José, os quais, após sua morte, foram criados pela mãe de Nelson Sylvan. Angelina era filha de Joaquim Ayres (maçom, fotógrafo e, como Bernardo Horta, fundador do Grêmio Bibliotecário Cachoeirense, a biblioteca da Maçonaria).

 

No dia 15 de dezembro de 1898, ao ser iniciado maçom, declarou que "o respeito que voto a esta (Maçonaria) é tão grande que as minhas próprias convicções ficam esquecidas quando dentre deste recinto estou".

Farmacêutico formado em Ouro Preto - MG (dezembro/1881), jornalista (redator-chefe do "Cachoeirano") e político (vereador, Presidente da Câmara e deputado federal). Seu nome está inscrito em nossa história principalmente pela sua importante atuação política. Simples, idealista, honesto, sonhador e grande orador, como define Evandro Moreira, esses predicados foram sua glória e o seu martírio.

 

No término de seus dias, pobre, endividado, roubado pelo sócio da farmácia, doente e desprestigiado, desgostoso com os rumos da República, suicidou-se no Rio de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1913, dia em que completava 51 anos, cinco dias após a inauguração do Grupo Escolar Bernardino Monteiro.

 

Imagine o sofrimento do grande homem: esquecido por Cachoeiro, num canto qualquer do Rio, enquanto aqui inauguravam a Fábrica de Tecidos e a Fábrica de Cimento (fins de 1912) e o "Bernardino Monteiro" (o mais portentoso de nossos prédios públicos). "Deixou um nome limpo na vida pública, como na particular", diz Antonio Marins.

 

Bernardo Horta, em carta que manuscreveu no dia anterior à sua morte, cujo original está carinhosamente conservado pelos seus descendentes, pediu, como últimas vontades, "Enterro de última classe, sem acompanhamento. Sepultura rasa. Ninguém de luto por mim. Os filhos uma fita ou laço no vestuário". Quando seus restos mortais foram trasladados para Cachoeiro, uma multidão os acompanhou. O sepultamento (sepultura nº 65, quadra 1-C), juntamente com os restos mortais de D. Angelina, ocorreu às 13 horas de 1º de abril de 1919, segundo consta no recibo nº 55, da mesma data.  Depois, a única homenagem que a cidade lhe prestou - e sobreviveu - foi dar seu nome a uma de nossas principais ruas. Passado quase um século, é muito pouco, quase nada.

 

(Crônica que repito em homenagem aos 105 anos de seu falecimento e 156 anos de nascimento - morreu no dia em que aniversariava - 20 de fevereiro).


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