Recaída - Jornal Fato
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Recaída


Quando eu soube que ela te denunciou, minhas emoções foram as mais variadas. Fui e voltei de zero a dez diversas vezes por segundo. Vingança foi a minha primeira ideia. Inveja porque ela teve a coragem que eu nunca tive, de te denunciar por seus atos violentos. Alegria por você estar preso, e tristeza pelo mesmo motivo. Medo do seu sofrimento, e prazer pelo mesmo motivo.

 

Mas a melhor parte é que agora estou aqui. Salve a visita intima! Eu sei que você ficou surpreso quando me viu, e que foi uma surpresa boa. Senti seu desejo quando me beijou, quando rasgou minha blusa, quando não perdeu tempo tirando minha calcinha.

 

A falta eu que te fiz está em cada marca que deixou no meu corpo sem que eu reclamasse de qualquer uma delas. Acha que eu sou fresca como essa vagabunda pela qual você me trocou? Essa mulher que você achou que te amava, mas que te traiu e te entregou para a polícia na primeira surra? Essa que não entendeu sua forma peculiar de amar? Não, meu bem. Eu sou a que te ama, que te entende, que te acolhe, que te vigia e que te quer acima de tudo. Sou a mulher da sua vida. Posso ser sua gueixa, seu saco de pancadas, sua empregada. Sei que também posso ser seu inferno, mas acho que desse inferno é o que mais sentiu falta. O céu que aquela sonsa jurou ser deu no que deu.

 

Tomara que você fique preso por muito tempo. E quando sair, se não voltar para mim, que arrume outra que te denuncie. Não é ruim que esteja aqui. Sou a única com coragem de enfrentar toda humilhação para conseguir entrar. Não é fácil passar por todas as etapas de revista, ouvir todas as gracinhas de seus colegas confinados e enfrentar filas sem fim. Não é fácil, mas vale à pena.

 

Semana que vem eu volto. Sem advogados, para não facilitar. Aqui é o lugar mais seguro para que seja só meu. Não quero que nossa lua de mel termine. Agora vá para o banho de sol, porque preciso ir embora. E vou rezando para aprovarem logo a prisão perpétua.

 


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