Prece - Jornal Fato
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Prece


Nas redes sociais, a bela e jovem mãe cristã posta fotos de sua sorridente família,  uma infinidade de mensagens religiosas e frases motivadoras, nas quais valoriza os mais nobres sentimentos -  amor, respeito, amizade, solidariedade, compaixão e tantos outros - de forma tão profusa e veemente que nos faz duvidar de nossas próprias qualidades. Aparentemente devota, parece falar direto com Deus, fazendo-lhe muitas preces que clamam pelo bem do próximo. Dentre elas, uma se destaca pela singeleza. Algo assim: "Senhor, leva o prefeito e a presidente e devolve o Cristiano Araújo". 

 

Quase quero discutir aqui o gosto musical duvidoso da virtuosa mocinha, mas vamos focar no paradoxo: quem são estes que se dizem cristãos, cidadãos do bem, cumpridores da lei e defensores da moral, enquanto constrangem e ridicularizam "o próximo" nas redes sociais? Certo, talvez seja um exagero politicamente correto questionar a ação da bondosa jovem cristã, afinal a intenção da postagem parece mesmo ser "brincar e desabafar". Mas precisa brincar e desabafar com - literalmente - a vida alheia?

 

Nem falo de ofensas, agressões, xingamentos e ameaças reais. Basta jogar o joguinho proposto por um amigo: imaginemos que fosse o prefeito ou a presidente a pedir ao Senhor que acolhesse a bem-humorada mãe cristã. Bem, aí a brincadeira já não parece mais tão inofensiva.  Ou seja, uma análise baseada em dois pesos e duas medidas deixou de ser estratégia oportunista, para tornar-se posicionamento altamente aceitável, justificável, recomendável quando há tantos interesses e opiniões divergentes correndo soltos em nossas províncias virtuais.

 

De minha parte, continuo desejando um futuro em que "gente do bem", seja por qual motivo for, não se ache no direito de, pelo menos publicamente, mandar seu semelhante à morte, à merda ou à puta-que-pariu.

 


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