Poesia
Caro leitores, apesar de sempre escrever em prosa para vocês, tenho um apreço (um caso forte) com a poesia. É ela que me devolve e me tira do mundo, dando-me novos olhares e vertentes para nossa essência humana. Excelente leitura. Bom apetite literário!
Ele se aproximou de mim e
pediu o tempo.
Algo improvável e escorregadio.
Visgo contínuo e também perturbante.
Não elogiei palavras nem descortinei desejos.
Mais de uma vez, me disse apegos e tentou construir
noções de tempo.
Inaugurei com ele palavras... e invadi os medos.
Ele me disse que plantações marcam a passagem do tempo.
Os grãos devolvem a nós o que há de melhor na terra.
Somos grãos dissolvidos em redes, ventos, assombramentos.
Não temos a certeza da colheita.
Milhos e trigos estavam misturados a nós.
Nesse momento, vi ser possível grão, raiz e amor.
Sua delicadeza esperou meu sossego e ele suscitou o que mais queria.
Ainda esperei por suas mãos delicadas e suas frases benditas.
Explodiram sonhos e embriaguei-me com seus deslizes e suas mãos.
A ele disse haver nove esperanças e alguns grãos de alegria.
E ele revelou ainda ter felicidade.
Dos frutos do corpo
De tempos em tempos
Frutos e folhas recolhem-se à morte.
Nascem novas folhas, fincam-se raízes.
Mas a vida tem as asperezas.
Desfrutamos de janelas e paisagens,
De muros e portas.
Novas flores anunciam primaveras
Que emoldurarão espaços de caminho e de espera.
Os frutos podres caídos no chão enfeiam quintais e atraem
aves e animais famintos.
Dos restos, compõem-se novas ordens.
O Sol, todos os dias, repete a sina,
De nascer e morrer.
Somos polens, frutos apodrecidos, germinação,
Flores de estação, plantas esquecidas em varanda e
Sol nascido bem cedo.
O mundo é anunciação e sentença.
São pedaços de natureza se recompondo
Em raízes e frutos morridos.
Limpar os quintais e aguar as flores
Obrigam a continuação da humanidade.