O samba não pode morrer - Jornal Fato
Colunistas

O samba não pode morrer


 Conheci o Carnaval  na adolescência e apaixonei-me perdidamente. Passei toda a juventude curtindo os carnavais do Iate Clube de Marataízes e após casada não diminuí o ritmo. Pulava grávida, minha filha mais velha nasceu em março e nas fotos apareço com uma barriga enorme e devidamente fantasiada, inclusive fantasiava toda a família, estimulava os blocos e partíamos para a folia. O Carnaval do Iate durava quatro noites, duas matinês em que levávamos as crianças e havia no sábado anterior uma prévia, o Baile do Havaí, afinal participávamos de todos.

 

O Carnaval é uma festa de alegria, democracia e de muita confraternização, não escolhe classe social, basta colocar uma fantasia e sair atrás do ziriguidum que empolga e alucina. Quem tem o samba na alma não precisa se embriagar para desfrutar da folia. A história do Carnaval segue paralela com a da minha vida - brinquei sob o ritmo das marchinhas, dos sambas, dos sambas enredo, do frevo e do axé. O Carnaval era feito principalmente de marchinhas que eram lançadas no início do verão e tocadas nas emissoras de rádio até a exaustão. Na folia de Momo já sabíamos todas de cor, em geral as letras eram de críticas  aos governos ou a sociedade. E muitas delas seriam hoje barradas pela censura, pelo teor politicamente incorreto. Os blocos de rua não possuíam muita organização, bastava alguns instrumentos para compor o ritmo e o povo saía atrás. Com o advento dos trios elétricos o Carnaval tomou outra dimensão, o  samba tradicionalmente carioca foi substituído pelo axé baiano e os foliões saíam atrás daqueles caminhões enormes, com som altíssimo, repetindo coreografias que fugiam do ritmo natural do samba tradicional. O que segurou a tradição, neste período, foram as Escolas de Samba.

 

Hoje a folia acontece com tudo junto e misturado -  pagode, hip hop, funk e sertanejo. É delicioso ver o povo nas ruas, famílias inteiras nos blocos e na animação. E eu, como outros mais, tentamos manter a tradição. Organizo há anos um Carnaval a que denomino de genérico do Iate Clube, com muito samba, marchinhas e animação. Conto com amigos para a realizar e divulgar o evento. E enquanto houver vida e saúde, a sentença do poeta é por nós respeitada: "Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar"! Marilene De Batista Depes

 


Comentários