Morremos - Jornal Fato
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Morremos


Por que nos perdemos de nós mesmos? Por que permitimos morrer parte ou o melhor de nós? Por que não alcançamos a dor do próximo? O que tem nos escapado? A humanidade, nestes tempos, tem sangrado. A dor anda tomando proporções gigantescas.

 

Não tenho conseguido respostas para as sentenças de mortes que se anunciam todos os dias, para os dilemas que tomamos aos goles- em doses elevadas. A morte de um jovem, a escassez do amor e respeito ao próximo, a cinzenta cor que pincela a humanidade, a falta de dor com os cortes alheios.

 

O que andamos fazendo conosco? Sinto que nos abandonamos, não suportamos o que se diferencia, anestesiamos nossos ouvidos e olhos e não nos importamos com as angústias do coração daquele que se aproxima de nós.

 

A ruptura na vida, imposta por inflamações na alma, nos mostra a pobreza que dilacera, o silêncio corroído por uma voz a qual ninguém escuta, a tolerância ressecada nas veias e nos músculos da ética e moral, escorrendo, entre lágrimas e sangue, a falsa pretensão de ser humano.

 

A morte se anuncia aos gritos, "Venci", diz, bravamente, e nos matou mais uma vez. No seu lugar, viveu nosso discurso raso de respeito às diferenças, nossa pseudo- forma de amor e paz, a inerte agregação e empatia e a não perpetuação de unidade.

 

A doença que nos dói é a coragem que se desfaz no medo, o amor que ganha o avesso do ódio, o respeito enterrado na discriminação e a humanidade que se desmancha e agoniza nas palavras de ordem do preconceito.

 

Morre um menino, morre a explosão de uma vida. Morre cada um de nós que se conforma que a angústia do outro é apenas dele, deve habitar só o seu quarto, a sua parte. Morremos em nosso egoísmo e na dura ausência, pois, legitimamente, acreditamos que o outro é apenas o outro e não nos pertence, como também sua tão aflita agonia. Triste engano.


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