MÁSCARAS - Jornal Fato
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MÁSCARAS


Eis que a Festa de Momo se aproxima, desta vez chegando mais cedo, no comecinho de fevereiro. Isso que significa, portanto que o verão será mais curto, para muitos. Um amigo meu, Artur, costumava dizer, não sem razão, que o Carnaval era a festa da carne. Ele justificativa este raciocínio separando essa palavra em duas outras, carne e aval. Seria, portanto, um tempo em que todos os prazeres da carne estariam liberados, estariam garantidos para todos. Eu fiquei curioso, fiz uma pesquisa rápida e encontrei no Dicionário Houaiss que esta palavra tem origem no latim clássico carnem levare, significando a abstenção de carne a ser feita nos próximos quarenta dias após a festa; a quaresma, para os cristãos.

 

Costumamos dizer que o Carnaval é um tempo de alegria, música, fantasias e máscaras. Mas vou falar aqui de outras máscaras, as que todos nós usamos no dia a dia, muitas vezes de forma inconsciente. São as máscaras, às vezes até mesmo disfarces completos, que colocamos todos os dias, assim que acordamos. A primeira nós usamos quando damos um beijo de bom dia na pessoa que está ao nosso lado, ao levantarmos. Outra, quando estamos levando nossos filhos à escola. Também usamos uma diferente quando chegamos ao trabalho e cumprimentamos nossos colegas ou atendemos aos clientes. Usamos tantas e diversas máscaras durante toda a nossa vida, e nem por isso somos necessariamente pessoas falsas ou que nos iludimos umas às outras.

 

Essas máscaras nada mais são do que a externalização de nossa personalidade de acordo com a situação que estamos vivendo. Nós as utilizamos como forma de tornar nossa convivência mais prática e harmoniosa; eu diria que menos conflituosa, na verdade. Se sou professor, ajo de maneira diferente quando estou na sala de aula, lecionando, da maneira de quando estou na fila do banco, para ser atendido, por exemplo. Lá, direciono, ensino; aqui, sou guiado, orientado. Tudo bem que posso ser bem - ou mal -educado, tanto numa situação quanto noutra, mas isso já pode ser do meu caráter; pode não ter a ver com a situação em si.

 

Adapto aqui um provérbio japonês que diz que todos nós temos três faces, ou três máscaras. A primeira, nós mostramos ao mundo; é aquela face que todos conhecem. Tanto pode ser o sujeito bonachão quanto o cara grosso e estourado. É o que o mundo vê e conhece de mim, e que eu permito que ele conheça. A segunda máscara é aquela que apenas os mais próximos, meus amigos e parentes, conhecem. Eles sabem, então, o porquê de eu ser uma coisa ou outra; eu mesmo mostro isso para eles.

 

A terceira face, ou máscara, finalmente, é aquela que somente eu conheço - e mais nenhuma outra pessoa. É aquela que representa, para mim, ser o que eu sou, agir da forma que ajo. Ela é o resultado dos motivos - que são condições internas - e estímulos - que são fatores externos - que me vão moldando na medida em que eu me (trans)formo. E aquilo que eu sou somente eu sei, na realidade.

 

E você, quantas máscaras tem?

 


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