Janeiro - Jornal Fato
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Janeiro


É o nosso mês, mês dos trópicos, do calor intenso, mês das águas. Janeiro: Uma homenagem a Jano, na Mitologia grega e romana, porteiro do céu. Divindade guardiã das portas, apresentado com duas cabeças, pois todas as portas se voltam para os dois lados. É... Vivemos, neste verão, o melhor dos janeiros de décadas; vivemos o pior dos janeiros de nossas vidas. Não pelos dias ensolarados de crianças em areias das praias e brincadeiras intermináveis, e sim, pelo que vemos em rios e horizonte de grande parte do Brasil. Você, provavelmente, dirá que sofro por antecipação. É verdade, temo pelo futuro e pela falta das coisas básicas: água para limpeza corporal; energia para o conforto mínimo em cidade exageradamente quente. Conforto que alcançamos com a civilização. Pior: temo pelos hábitos individuais não civilizados que resistimos em mudar. E, de repente, seremos obrigados a nos transformar por fator de sobrevivência. Mais: temo pelas ações governamentais (Município, Estado, União) que deveriam ter sido organizadas, anos atrás, e não foram. Temo pelo que vejo e sinto. Nada muda, e a cada dia, secamos como nossos rios.

 

Ainda assim, com todos os medos acumulados, o sábado e domingo, a beira do mar, com o sopro do vento carregando a maresia; a presença da grande árvore com seu tronco e raízes, e uma enorme sombra, junto à Hugo Musso da praia de Itapoã, em Vila Velha, são alvissareiros. Quase um esquecimento dos dias difíceis que virão. Mas, vejo, também, em final de domingo, pelo caminho ao lado do rio, todos meus receios retornando, são as pedras imensas (que nunca tinha observado com tanta nitidez) por todo leito do Itapemirim, mistura-se tristeza e medo, algo angustiante. Na tarde, uma leve brisa aparece, uma leve esperança pelo retorno das chuvas, crescimento de árvores no entorno do rio, uma nova consciência individual e coletiva. No apartamento, a falta de energia repentina não me deixa esquecer que, mesmo com toda ajuda do nosso padroeiro, o São Pedro cachoeirense, mesmo com ele, as nossas necessidades perdurarão por meses, bem provável anos. Mesmo aprendendo a economizar, mudando hábitos, melhorando a rede de distribuição e diminuindo seu desperdício, ainda assim, os reservatórios e a nossa segurança demorará a retornar.

 

Em Cachoeiro, no Bairro Paraíso, pela estiagem prolongada e brutal, o córrego secou. Desapareceu. Uma leve lama restou. Animais (coelho, gambá, camaleão, saguis...) que habitam árvores próximas ao bairro, na reserva florestal da Viação Itapemirim, observa-se novos hábitos: aparecimento durante o dia em busca de água; coelhos domésticos cavando buracos para esconder-se do sol (algo que desaprenderam em tempos passados); passarinhos invadem os lares em busca de alimentos. Algo inusitado: urubu furtou, junto à cozinha de uma das residências, um grande bife de alcatra. Pior: as ratazanas voltaram. Isto é: os hábitos dos animais mudaram. Precisamos mudar os nossos.

 

O calendário ocidental, a nossa contagem do tempo, é o Gregoriano. Substituiu o Juliano, 1582, iniciativa do Papa Gregório XIII. Nesse último dia do mês de janeiro, nada alentador. Mas... Começa fevereiro, carnaval, mês de sonhar, sonhar... Mês curto. Quem sabe março... As águas de março retornam e com ela: a alegria de todos nós.

 

Sergio Damião Santana Moraes


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