Nunca se foi tão feliz como agora. Pelo menos nas redes sociais onde reinam a alegria, o sucesso e a paz de espírito. Mas se no virtual tudo vai bem, na vida real essa tal felicidade passa por ajustes e questionamentos quase que diários. Estou plenamente feliz nesse lugar? Mudo ou não de emprego? Caso ou compro uma bicicleta? Largo tudo e vivo um ano sabático?

 

Tantas palavras, meias palavras. Nenhuma fórmula pronta de felicidade. Para uns, formar um par é ser feliz. Para outros, a plenitude é o palco, a luz, a plateia. Também pode significar fortuna, poder e celebridade ou uma vida modesta, longe dos holofotes da sociedade. Ser feliz pode ser ter filhos ou ter um gato, um cachorro, uma planta. Pode ser entrar às oito e sair às dezoito, bem como viver na estrada, na ponte área, no mundo, carregando aquela sensação que "a vida não está passando inutilmente".

 

Até ontem acreditávamos no "felizes para sempre" dos contos de fadas, no pote de ouro no final do arco-íris, e agora vivemos de uma busca não menos ilusória da alegria constante, do bem-estar, da aprovação alheia. Afinal, de que adianta ser feliz se o mundo não sabe? Daí o sucesso das redes sociais.

 

Escrevo essa crônica após ler o seguinte desafio num site: você aceitaria ser feliz por 100 dias? "Pode ser qualquer coisa - desde um encontro com um amigo até um bolo bem gostoso na cafeteria ao lado, desde a alegria de estar em casa depois de um longo dia de trabalho até uma gentileza que você fez a um estranho". Isso é tão fácil, penso eu. Mais adiante a constatação de que 71% das pessoas que tentaram completar esse desafio falharam, citando a falta de tempo como principal razão. "Essas pessoas simplesmente não tinham tempo para ser feliz. Você tem?", alfineta.

 

Mas, por que você e eu aceitaríamos esse desafio? Porque, segundo o site, quem teve a coragem de ir até o fim, trouxe para sua vida mais gratidão, bom humor, otimismo e paixão. E, ainda melhor, contagiou a todos que estavam ao lado.

 

Cem dias felizes prorrogáveis para a vida inteira. Talvez esse seja o grande desafio. Ser feliz todos os dias sem competições e demonstrações públicas, apenas com aquele sentimento reservado na alma de que a vida tem sentido e a felicidade mora ao lado, bem pertinho de nós.