Dia Internacional da Mulher - Jornal Fato
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Dia Internacional da Mulher


(Capítulo 29)

 

Ontem foi dia internacional da mulher e lembrei de você quase o dia todo. Deveria ter absorvido melhor todas as lições que a mulherada, na teoria, saiu pregando por aí. Assim teria te esquecido e não estaria aqui assim: com saudade e te escrevendo. Você é a pior referência do que chamamos de respeito. 

 

Foram tantas vezes em que fui torturada por você, que jamais conseguiria enumerar. Torturas físicas, psicológicas e financeiras. Uma mais grave que a outra. E o pior é que foi tudo com a minha permissão. Deixei que você invadisse meu mundo e o comandasse até que eu não vislumbrasse mais qualquer possibilidade de viver sem a sua presença dominante e violenta. 

 

Lembro que muitas vezes me obrigou trocar de roupa, rir menos, falar baixo, te entregar minhas senhas e meus cartões, desistir dos meus amigos.  Isso sem falar nas surras, socos e pontapés. Ah! Isso sem falar em tantas outras coisas! 

 

Eu ainda te amo e quase sinto culpa por isso. Quase, porque culpa é uma coisa que estou querendo eliminar da minha vida. Como no dia em que me arrumei toda e você não notou, e me senti feliz porque muitos dos homens que cruzaram por mim na rua não conseguiram esconder a admiração. Chorei no carro, culpada por gostar que os outros me admirassem. Culpa? Por que? Já que você não deve nem saber a cor dos meus olhos, já que você não reconhece nenhum detalhe específico do meu corpo, já que você só me observava para criticar o que estava gordo, flácido ou fora do lugar, por que não os outros olhares? Por que não permitir que, ao menos de longe, alguém me desejasse, já que você nunca o fez? Eu pergunto e ao mesmo tempo respondo: porque nenhum deles ou qualquer outro chegou perto de ser o amor da minha vida. Esse é você, e só você. 

 

As mulheres ontem pediam por respeito. E acho que estão certas. Devo começar a exigir o mesmo e começar por mim. Eu respeitando meu corpo, meus limites, minhas fraquezas. Eu respeitando a luta que tantas mulheres travaram até aqui e toda a luta que ainda virá. Mas devo respeitar também meu sentimento, e gostaria de te pedir para na ser tão duro comigo. Venha me ver antes que, ao invés de sutiã, eu queime você vivo, jurando que foi apenas para vingar Joana D'Arc.


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