Dia dos pais - Jornal Fato
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Dia dos pais


 

Meu pai é falecido. Muitos anos atrás. Com o passar do tempo e com as idas e vindas em nossas vidas, no fim e recomeço de relações, nas alegrias e mágoas acumuladas, com os amores não concretizados, pensamos na finitude e valorizamos os versos poéticos: "Em meu princípio está meu fim. Em meu fim está meu princípio." Mas o dia de hoje me faz lembrar, em detalhes, as coisas vividas com ele. É o que nos resta, as lembranças. A memória permite isso, preservar pessoas e coisas. Algo próprio do ser humano. Com a memória nos tornamos imortais. Passamos as lembranças aos filhos e atingimos a eternidade. São poucos os anos de convivência física, da presença na terra, ou sob o mesmo teto, por isso, na ordem natural das coisas, os filhos devem zelar pelos pais. Zelar pelo físico e a memória. Nada mais natural no ciclo da vida. O tempo despe e evidencia a verdade; as cicatrizes do passado revelam a verdade nua e crua. Pena que: "É verdade que o tempo a descobre, mas muitas vezes não a descobre a tempo."

O pai naturalmente disponibiliza amor. Frequentemente de forma diferente do esperado. Deseja ao filho aquilo que não possuiu. Deseja tanto que, extrapola nas exigências. Exige aquilo que não foi capaz de realizar. É o amor se manifestando na forma do desejo. Porém, na verdade, contenta-se com qualquer conquista, e alegra-se com um sucesso, pequeno que seja. Com sucesso ou não; com conquista ou não; ele sempre amará, mesmo que por algum instante fique a impressão do contrário. Logo se alegra com a presença dos filhos. O pai esconde o sentimento, uma defesa da maioria dos homens, não demonstram aquilo que sentem. Talvez, seu único erro.

Não é fácil ser pai nesse mundo confuso. Modificar-se, de receptor a doador de cuidados, em pouco tempo. Vencer o egoísmo. Ser presente, atuante, solidário, amante, desejante, alegre... Após todas essas virtudes, saber o tempo certo e a distância exata para atuar, ou entrar em cena, na vida dos filhos. "Aceitar que nada começa hoje e nada termina amanhã." Uma tarefa humana das mais difíceis. Mais difícil do que todas as conquistas materiais. A maior riqueza do homem: alcançar a sabedoria de um verdadeiro pai.

Bom... Alcançar as virtudes de um pai é tornar-se um super-homem aos olhos dos filhos. Um super-herói. Algo impensado para um homem comum. Algo encontrado aos olhos das crianças. Gradativamente devemos ensinar que o pai é um ser humano, com erros e acertos, mais acertos que erros, nas tentativas com os filhos. Cabe aos filhos discernirem o pai do ser humano. Só o tempo desnudará a verdade.

A magia do pai sempre existirá. Está em seus sentidos. Guardamos, em lembranças, a visão e o tato. O pai torna-se mágico com o olhar e o tocar. São os que levam alegria, uma das formas de amar. Traz segurança aos adolescentes. Recebem em troca, sem cobranças, os cuidados no envelhecimento. Quando o meu tempo chegar, gostaria que o meu corpo, as cinzas do meu corpo, retornassem ao local onde nasci. Com isso terei a liberdade de voar e estarei conectado ao universo. Desse modo, acredito, despertarei o restante dos meus sentidos e amadurecerei meus sentimentos.

 

Sergio Damião Santana Moraes


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