Despedidas - Jornal Fato
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Despedidas


Sim, eu sabia que nada nem ninguém dura para sempre; aliás, eu sei disso já há algum tempo, em especial desde que minha avó materna faleceu. E avós são pessoas que a gente acha que não morrem nunca - ou que pelo menos não deveriam morrer nunca - do mesmo jeito que pai e mãe da gente. Mas mesmo assim eu tenho me surpreendido continuamente com as peças que a vida vem me pregando nos últimos tempos, com as perdas que ela vem me impondo, sejam elas diretas ou indiretas. São parentes, conhecidos, amigos; pessoas que fazem - ou que fizeram em algum momento - parte de minha história e que, de uma hora para outra, sem mais nem menos, me dão adeus.

 

Tá, esse tipo de coisa só acontece com quem está vivo e tem amigos, pessoas de quem se gosta afinal; também sei disso. Mas dói do mesmo jeito quando você vê partir amigos e pessoas próximas, muitas vezes de forma abrupta, inesperada. Eles partem pelos mais diversos motivos: acidentes, doenças, ataques cardíacos etc.; partem até mesmo por nada, sem motivo algum. E o espaço que eles ocupavam em sua vida, por menor que você achasse que fosse, de repente fica parecendo grande demais. E por mais tempo que houvesse que você não se encontrava com eles, não era tanto tempo assim. Então, no final fica aquela sensação de que vocês deveriam ter se encontrado mais vezes, de que poderiam ter esticado aquela última conversa mais alguns minutos. Ter aproveitado mais a companhia deles, mesmo que em silêncio, apenas admirando a lua cheia ou vendo a chuva cair.

 

Mas agora não adianta ficar pensando nisso, não é mesmo? O que aconteceu, aconteceu, não pode ser alterado, por mais que se queira. Nosso amigo se foi, e estamos todos um pouco mais sós, por aqui. Sei que é duro eu falar isso, que pode até parecer exagero, mas penso que o mundo ficou um pouco pior sem ele. O que resta, então, de tudo isso, de uma amizade interrompida? Ora, ficam as boas lembranças - essas sim precisam e devem ser guardadas e cultivadas - de momentos passados juntos. Aquela palavra de conforto dita no momento certo, na hora em que mais se precisava; o conselho amigo, dado com a mais pura sinceridade, mesmo que não tenha sido pedido; o sorriso aberto que sempre precedia uma gentileza, por vezes inesperada. A saudade que fica deve ser utilizada para nos alegrar, e não nos entristecer. As boas lembranças de um amigo que parte devem servir para nos orientar, como se ele ainda estivesse por aqui, e aquecer nossos corações.

 

Nenhuma amizade é pequena demais para não ser sentida quando acaba. Até logo, Rui, a gente se vê por aí qualquer dia desses, meu amigo.

 


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