?Desinteresse Prematuro? - Jornal Fato
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?Desinteresse Prematuro?


Dias atrás escrevi: "Ainda há tempo?" Indagava se havia tempo para mudanças ou realizações em nossas vidas. Independente do tempo vivido de cada pessoa, pois, o acaso existe, portanto, não sabemos o tempo que nos resta. Marilia Mignone achou interessante a abordagem e encaminhou mensagem; acho que interessou a José Maria Sá (médico e diretor técnico da Santa Casa de Cachoeiro). Ele me encaminhou, logo depois, três textos.

 

O mais instigante é o que dá nome a esta crônica. Publicado na Folha de São Paulo, em agosto de 1997. Escrito por André Lara Resende. O autor sente-se incomodado com o noticiário, não apenas político e econômico, mas também, os ditos assuntos modernos como casamentos de homossexuais, filho da Madonna e... Ele diz: Não parece incomum que "os acontecimentos aborrecem". Tanto que a frase pertence a Paul Valery, em francês, a sonoridade da frase o encantou. O assunto parece influenciar a muitos, pois, o romancista português (Antonio Alçada) usa a frase e se pergunta "se ainda há interesses que nos restam". Lembra: "A vida da maior parte das pessoas foi gasta em coisas que não valiam a pena e que o sistema de aspirações que escolheram era de uma pobreza atroz". Alçada se atreve a reconhecer que não realizou o mais importante na sua vida que, infelizmente, não consegue, ainda, saber bem o que é. O que busca é fugir à frase que caracteriza a velhice e o médico diz a respeito dos moribundos: "Esse já está desinteressado..."

 

Outro texto, do Presidente da Sociedade Brasileira de Clinica Médica, Antonio Carlos Lopes, fala sobre a importância de se investir na formação médica. Apesar do aumento da produção científica brasileira, questiona se a pesquisa financiada no País é produtiva para a comunidade. A busca da produção cientifica é a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Considera que os cursos de qualidade são aqueles que se preocupam em desenvolver habilidades, ética e atitude. Mostrar ao profissional como construir seu próprio saber, buscar atualização e aplicar o conhecimento com critérios. Necessita-se de competência e humanismo à beira do leito. Não basta transmitir o conhecimento, é preciso educar e sensibilizar o aluno para os problemas sociais. Ao professor cabe: ensinar a aprender.

 

O texto derradeiro: A Cegueira e o Saber. De Afonso Romano de Sant'Anna. Começa com uma lenda: "Uma praga atingiu os mongóis. Os saudáveis fugiram. Entre os doentes havia um jovem chamado Tarvaa. O seu espírito deixou o corpo e chegou ao lugar dos mortos. O governante daquele lugar pergunta a Tarvaa: Por que deixaste o teu corpo enquanto ainda estava vivo? Eu não esperei que me chamasse. Simplesmente vim. Comovido, o governante disse: A tua hora ainda não chegou. Deves retornar. Mas pode levar daqui o que quiseres. Tarvaa olhou em volta e viu todas as alegrias e riquezas. Pediu: Dá-me a arte de contar histórias. E assim retornou ao seu corpo e constatou que os corvos já lhe haviam arrancado os olhos. Como não podia desobedecer ao governante, ele reentrou em seu corpo e viveu cego, porem conhecendo todos os contos e levando pela Mongólia alegria e saber para todas as pessoas". Conclui: Narrar é uma forma de sobreviver e afastar a morte. Assim foi em "As mil e uma noites" com as peripécias de Sherazade.

 

Sergio Damião Sant'Anna Moraes


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